domingo, 1 de maio de 2011

O Mal-estar na Civilização - uma resenha

O mal-estar na civilização - inicialmente o texto trata a partir do deslocamento das ciências da natureza (exatas) às ciências do espírito (humanas) e às "questões culturais". Isto será possível graças à teorização da pulsão e da descoberta de algo mais além do princípio do prazer que, fundando conceitos num espaço mitológico, abre novas vias para a psicanálise, ainda rigorosa, mas livre de um empirismo exacerbado. Assim, o texto diz que o mal-estar não vem da oposição entre a civilização (e suas exigências repressoras) e a pulsão (e suas exigências instintivas imperiosas), pois não se trata de uma oposição simples. A renúncia às demandas pulsionais implica ela mesmo em uma certa satisfação, que tanto quanto a renúncia, funda a sociedade. Freud argumenta que para viver em sociedade o ser humano precisa tolher os instintos de sexualidade e agressividade e com isto perde a capacidade de ser plenamente fiel à sua natureza e vive sob uma condição de insatisfação permanente. Um texto imensamente rico onde Freud aponta para inúmeros temas. Ele constitui, por exemplo, traços de caráter, com um esboço de teoria da relação do erotismo uretral com o fogo, de uma explicação psicanalítica da tendência ao asseio e à higiene, de uma teoria do comunismo, do anti-semitismo, de uma discussão sobre a sociedade americana e ainda um esboço de teoria sociológica e pedagógica a partir da psicanálise. Um dos temas centrais do ensaio diz respeito ao indivíduo e à civilização, e como o desenvolvimento do indivíduo e a evolução da civilização estão intrinsecamente ligados e quando/onde esta ligação ocorre. O texto fala também da sublimação (ou a canalização da energia para outras atividades físicas e psicológicas), e não-satisfação/renúncia dos instintos que ocorre quando enterramos nossos instintos em troca por viver em sociedade. Para uma melhor compreensão faz um pequeno desvio por totem e tabu. O assassinato do pai da horda primitiva fundando a lei e a proibição. Existiria uma orientação ética específica da psicanálise? Como entender esta ética? Freud se mostra pessimista afirmando tentar unicamente circunscrever a estrutura da civilização sem propor alternativas ao seu mal-estar. Ele permite-nos compreender a inviabilidade de uma sociedade totalmente hedonista assim como de uma sociedade da lei pura (pois quanto mais lei, mais pecado). “o desejo não existe, só existem as demandas”, esta é sua máxima, ou ainda, "o sujeito não existe só existem comportamentos", ou "o singular não existe só existem o geral e o particular". Sobre esta posição subjetiva, e no sentimento de perda que pode acarretar observa-se a tristeza e a depressão tão presentes nestes tempos de pós-modernidade. Que exista um mais além das demandas e que este seja singular é sua máxima. Para a psicanálise, as restrições que a civilização moderna impõe ao livre funcionamento das pulsões sexuais e destrutivas provoca mal-estar na subjetividade. Com efeito, a opinião mais difundida é a de que a civilização é responsável por nossa miséria e que deveríamos abandoná-la para retornar ao estado primitivo que nos asseguraria mais felicidade. Tal ponto de vista, hostil à civilização, origina-se daquilo que a vida comum exige e, ao mesmo tempo, contraria a busca do prazer. Toda análise de Freud converge em direção á necessidade da renúncia à realização direta dos fins pulsionais. Conseqüentemente o mal estar contemporâneo, consiste no sentimento de culpa vivido pelo sujeito dividido entre satisfazer e/ou renunciar estes instintos. Conclui-se que o homem civilizado trocou uma parte de felicidade possível, por uma parte de segurança.
                                                                                por Fernanda Pineda Vicente Dias Silva
                                                                                                             (comunicação social)



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