quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

FELIZ NATAL E UM NOVO ANO DE MUITA PAZ

                                 UM NATAL DE MUITA PAZ, AMOR E COMPREENSÃO
                                         QUE 2012 SEJA REPLETO DE REALIZAÇÕES
                  SÃO OS DESEJOS SINCEROS DOS AMIGOS PSICNALISTAS DA AEPSP

domingo, 6 de novembro de 2011

Reunião AEPSP - Grupo de Estudos

                       

                                    PRÓXIMA REUNIÃO AEPSP:

                                   10/12/11 sábado - das 9h às 12:00h

             Grupo de Estudos - A PSICANÁLISE CONTEMPORÂNEA

               Contamos com a sua presença,
venha participar conosco,

                                                     Diretoria AEPSP

terça-feira, 18 de outubro de 2011

AEPSP - Reunião de Diretoria

Caros Colegas

Nossa próxima reunião de diretoria será dia 29/10/2011 - sábado às 14h

Contamos com a presença de todos!

abraços

AEPSP

domingo, 21 de agosto de 2011

AEPSP - Reunião de Diretoria

Caros Colegas

Nossa próxima reunião de diretoria será dia 15/10/2011 - sábado às 9h

Contamos com a presença de todos!

abraços

AEPSP

domingo, 7 de agosto de 2011

AEPSP - Reunião de Diretoria

Caros Colegas

Nossa próxima reunião de diretoria será dia 20/08/2011 - sábado às 14h

Contamos com a presença de todos!

abraços

AEPSP

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Reunião de Diretoria

Caros Colegas

Nossa próxima reunião de diretoria será dia 16/07/2011 - sábado às 15h

Contamos com a presença de todos!

abraços

AEPSP

sábado, 18 de junho de 2011

Grupo de Estudos

NOSSA PRÓXIMA REUNIÃO AEPSP:
09/07/11 sábado - às 14h 
Grupo de Estudos - M. Klein
'A NARRATIVA DA ANÁLISE DE UMA CRIANÇA'



Contamos com a sua presença.


Diretoria AEPSP

terça-feira, 14 de junho de 2011

Reunião aepsp

Caros Colegas

Nossa próxima reunião será dia 18/06/2011 - sábado às 15h

Contamos com a presença de todos!

abraços

AEPSP

quarta-feira, 8 de junho de 2011

V ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS DE SÃO PAULO - AEPSP

V ENCONTRO DA ASSOCIAÇÃO DE ESTUDOS PSICANALÍTICOS DE SÃO PAULO - AEPSP
CUIDE DO SEU 'EU' INTERIOR

PROGRAMA DO EVENTO:
 
8:30 - 9:00h confirmação das inscrições

9h abertura - Sonia Pineda Vicente e Roseli Bacili Laurenti

09.30 - 10.15h Meditaçao, Hipnose e Psicanálise - Sonia Pineda Vicente

10.15 - 10.30 perguntas

10.30 - 11.00 coffee

11.00 - 11.45 Caso clínico e a Mitologia - Roseli Laurenti e Cesar Laurenti

11.45 - 12.00 perguntas

12.00 - 12.45 A boa Maternagem e o primeiro cuidador - Raquel Frazão Brunelli

12.45 - 13.00 perguntas

13.00 - 13.45 Cuidando do cuidador - Telma A. L. Carlos

13.45 - 14.30 Relaxamento - Miguel A. Singh Gil

14.30 - 15.30 Mesa redonda e encerramento
DIA 12/06/2011 - DOMINGO - DAS 9:00 ÀS 14:00H
LOCAL: Av. Corifeu de Azevedo Marques,1764 - Butantã - SP
[mapa no site http://www.nucleo7esferasdotao.com.br/]
investimento:
R$10,00 = associado e terceira idade,
R$20,00 = não associado
inscrições por e-mail : selma@globalbrindes.com.br ou por telefone: 2211.5679

sábado, 14 de maio de 2011

reunião aepsp

Caros colegas


 Nossa próxima reunião será dia 22/05/2011 às 15h

Contamos com a presença de todos!

Abraços


AEPSP

domingo, 1 de maio de 2011

O Paradoxo do Nosso Tempo - George Carlin


Nós bebemos demais, fumamos demais, gastamos sem critérios, dirigimos rápido demais, ficamos acordados até muito mais tarde, acordamos muito cansados, lemos muito pouco, assistimos TV demais e rezamos raramente.

Multiplicamos nossos bens, mas reduzimos nossos valores. Nós falamos demais, amamos raramente, odiamos freqüentemente. Aprendemos a sobreviver, mas não a viver; adicionamos anos à nossa vida e não vida aos nossos anos.

Fomos e voltamos à Lua, mas temos dificuldade em cruzar a rua e encontrar um novo vizinho. Conquistamos o espaço, mas não o nosso próprio.

Fizemos muitas coisas maiores, mas pouquíssimas melhores.

Limpamos o ar, mas poluímos a alma; dominamos o átomo, mas não nosso preconceito; escrevemos mais, mas aprendemos menos; planejamos mais, mas realizamos menos.

Aprendemos a nos apressar e não, a esperar.

Construímos mais computadores para armazenar mais informação, produzir mais cópias do que nunca, mas nos comunicamos menos.

Estamos na era do 'fast-food' e da digestão lenta; do homem grande de caráter pequeno; lucros acentuados e relações vazias.

Essa é a era de dois empregos, vários divórcios, casas chiques e lares despedaçados.

Essa é a era das viagens rápidas, fraldas e moral descartáveis, das rapidinhas, dos cérebros ocos e das pílulas "mágicas".

Um momento de muita coisa na vitrine e muito pouco na dispensa.

Uma era que leva essa carta a você, e uma era que te permite dividir essa reflexão ou simplesmente clicar 'delete'.

Lembre-se de passar tempo com as pessoas que ama, pois elas não estarão por aqui para sempre. Por isso, valorize o que você tem e as pessoas que estão ao seu lado.

O Mal-estar na Civilização - uma resenha

O mal-estar na civilização - inicialmente o texto trata a partir do deslocamento das ciências da natureza (exatas) às ciências do espírito (humanas) e às "questões culturais". Isto será possível graças à teorização da pulsão e da descoberta de algo mais além do princípio do prazer que, fundando conceitos num espaço mitológico, abre novas vias para a psicanálise, ainda rigorosa, mas livre de um empirismo exacerbado. Assim, o texto diz que o mal-estar não vem da oposição entre a civilização (e suas exigências repressoras) e a pulsão (e suas exigências instintivas imperiosas), pois não se trata de uma oposição simples. A renúncia às demandas pulsionais implica ela mesmo em uma certa satisfação, que tanto quanto a renúncia, funda a sociedade. Freud argumenta que para viver em sociedade o ser humano precisa tolher os instintos de sexualidade e agressividade e com isto perde a capacidade de ser plenamente fiel à sua natureza e vive sob uma condição de insatisfação permanente. Um texto imensamente rico onde Freud aponta para inúmeros temas. Ele constitui, por exemplo, traços de caráter, com um esboço de teoria da relação do erotismo uretral com o fogo, de uma explicação psicanalítica da tendência ao asseio e à higiene, de uma teoria do comunismo, do anti-semitismo, de uma discussão sobre a sociedade americana e ainda um esboço de teoria sociológica e pedagógica a partir da psicanálise. Um dos temas centrais do ensaio diz respeito ao indivíduo e à civilização, e como o desenvolvimento do indivíduo e a evolução da civilização estão intrinsecamente ligados e quando/onde esta ligação ocorre. O texto fala também da sublimação (ou a canalização da energia para outras atividades físicas e psicológicas), e não-satisfação/renúncia dos instintos que ocorre quando enterramos nossos instintos em troca por viver em sociedade. Para uma melhor compreensão faz um pequeno desvio por totem e tabu. O assassinato do pai da horda primitiva fundando a lei e a proibição. Existiria uma orientação ética específica da psicanálise? Como entender esta ética? Freud se mostra pessimista afirmando tentar unicamente circunscrever a estrutura da civilização sem propor alternativas ao seu mal-estar. Ele permite-nos compreender a inviabilidade de uma sociedade totalmente hedonista assim como de uma sociedade da lei pura (pois quanto mais lei, mais pecado). “o desejo não existe, só existem as demandas”, esta é sua máxima, ou ainda, "o sujeito não existe só existem comportamentos", ou "o singular não existe só existem o geral e o particular". Sobre esta posição subjetiva, e no sentimento de perda que pode acarretar observa-se a tristeza e a depressão tão presentes nestes tempos de pós-modernidade. Que exista um mais além das demandas e que este seja singular é sua máxima. Para a psicanálise, as restrições que a civilização moderna impõe ao livre funcionamento das pulsões sexuais e destrutivas provoca mal-estar na subjetividade. Com efeito, a opinião mais difundida é a de que a civilização é responsável por nossa miséria e que deveríamos abandoná-la para retornar ao estado primitivo que nos asseguraria mais felicidade. Tal ponto de vista, hostil à civilização, origina-se daquilo que a vida comum exige e, ao mesmo tempo, contraria a busca do prazer. Toda análise de Freud converge em direção á necessidade da renúncia à realização direta dos fins pulsionais. Conseqüentemente o mal estar contemporâneo, consiste no sentimento de culpa vivido pelo sujeito dividido entre satisfazer e/ou renunciar estes instintos. Conclui-se que o homem civilizado trocou uma parte de felicidade possível, por uma parte de segurança.
                                                                                por Fernanda Pineda Vicente Dias Silva
                                                                                                             (comunicação social)



CARTA ÍNTIMA PARA OS LEITORES QUE ESTÃO SE INICIANDO COMO TERAPEUTAS PSICANALÍTICOS

Porto Alegre, 2003.
Meu prezado jovem colega:
Dirijo-me nesta carta especialmente a você que, em conjunto com outros jovens, constitui o meu público predileto. Aqui, emprego o termo jovem não só no sentido cronológico, mas principalmente para caracterizar aquelas pessoas que, independentemente da idade, são jovens de espírito, isto é, mantem sadia curiosidade, garra, tenacidade e afanosa disposição para ler, estudar, conhecer e refletir. Acredito que vocês tem uma mente aberta, ao contrário de muitos outros colegas que ainda estão aferrados a determinadas ideologias analíticas com as quais estão de tal modo familiarizados que correm o risco de se manterem algemados e estagnados, prisioneiros daquilo que já sabem e praticam. O mais lamentável é que assim procedem de uma certa forma estereotipada, nao obstante possam estar repetindo equívocos de manejo técnico ou ancorados em conceitos certos, porém já superados por sucessivas transformações da prática analítica.
Creiam, não estou exagerando, o risco de incidirmos em um processo de anquilose mental é maior do que possa parecer: Por tudo isso, meu estimado jovem, decidi abrir a você o coração e a experiencia para, em um tom o mais informal e coloquial possível, passar um pouco das reflexões que venho fazendo, fundamentado em uma já longa vivencia de prática psicanalítica.
Com o propósito de conservar o espírito didático que animou a feitura do presente livro, nesta carta aberta também utilizarei o recurso de separar os parágrafos, seguindo uma enumeração, e mantendo uma relativa independência das idéias expostas em cada um deles.
Relevem o fato de que eu possa estar parecendo pretensioso, ditando recomendações técnicas, quando sabemos que cada um de vocês, na imensa maioria das vezes, está sendo acompanhado, de perto, por textos e ensinamentos de excelentes autores, professores e supervisores. Apesar .do meu receio de que venha a ser assim julgado, mantenho-me tranqüilo, pela convicção de que estou agindo de boa fé e de que as idéias que a seguir emitirei visam funcionar como uma espécie de epílogo deste livro, com uma visão sinóptica, ainda que muitíssimo reduzida, de conceitos expressos em distintos capítulos.


1. Inicialmente, caro leitor, desejo enfatizar a importância que adquire, na técnica analítica, portanto no processo terapêutico, a sua atitude psicanalítica interna, isto é, qual é, de fato, a sua autentica posição cognitiva e afetiva diante da ciência e da arte da terapia analítica, e, principalmente, diante do paciente que está r sua frente, entregando-lhe os bens mais preciosos que ele possui: os seus mais íntimos segredos, a esperança de que você acredite nele e que esteja junto dele!
2. A propósito, tenha em mente essa bela frase de Bion:
Em algum lugar da situação analítica, sepultada sob massas de neuroses, psicoses e demais, existe uma pessoa que pugna por nascer. O analista está comprometido com a tarefa de ajudar a criança a encontrar a pessoa adulta que palpita nele, e por sua vez, mostrar que a pessoa adulta ainda é uma criança. (1992b, p. 49)
3. Esta frase expressa com clareza o quanto devemos estar atentos, com nossa visão psicanalítica, binocular ou multifocal, enfocada nos múltiplos aspectos que habitam e interagem dentro de um mesmo paciente, de forma permanente, e que, com freqüência, estão em contradição, oposição, incoerência e com conflitos entre eles. São aspectos ocultos, r espera de que voce, merce de sua sadia curiosidade analítica, ilumine-os e os nomeie.
4. Assim, meu jovem colega, resgate a criança curiosa e filósofa que dorme em algum canto do seu self (e no de seu paciente). Toda criança sadia é uma filósofa - essa palavra vem de philos (amigo das) + sofos (verdades) -, desejosa de conhecer a origem, o como, o porque e o para que dos mistérios da natureza. Elas interrogam continuamente; o lamentável é que os educadores adultos, na maioria das vezes, distorcem, reprimem, confundem e sepultam este inato dom epistemofílico. Tome cuidado para que não façam essa esterilização com você ao longo de sua formação e, igualmente, para não faça o mesmo com seus pacientes.
5. Portanto, de forma suave, porém consistente, reaja contra esses eventuais educadores repressores de sua curiosidade filosófica, os quais, agora, de alguma forma, estão internalizados em você, ou se prolongam para fora de si, nas pessoas de algum eventual dirigente, professor ou supervisor. De asas r sua imaginação (ou seja, permita em muitas ocasiões que a sua imagem se transforme em ação, como ensinava Bion), com vistas a libertar a sua criatividade.
6. Para que você seja bem-sucedido no resgate de sua parte criança-curiosa, filósofa, imaginativa, criativa, é imprescindível que tenha bem estabelecida a diferença que existe entre uma curiosidade patogênica e uma sadia. A primeira é de natureza essencialmente intrusiva, invasiva, invejosa e controladora. A segunda, é uma curiosidade saudável e estruturante do psiquismo, visto que conduz a um estado mental interrogativo, aliado a um amor pelas verdades, o que conduz a um sentimento de o analista sentir-se verdadeiro e autentico. É este último atributo que diferencia um analista de outros que estejam exercendo a sua função não mais do que mecanicamente, embora cumprindo as regras técnicas que eles aprenderam, por mais adequadas que essas tenham sido.
7. Destarte, não se apoquente com a sua relativa ignorância; pelo contrário, faça um bom uso dela. Aplique para si mesmo, e para o seu paciente, o "método maieutico" preconizado por Sócrates, que induzia o interlocutor a reconhecer a sua própria ignorância e, a partir daí, encontrar e partejar possíveis soluções e novas aberturas. "Novas aberturas" nao quer dizer que elas devam ser certas, ou originalíssimas, mas, sim, simplesmente, que elas sejam outras...
8. Incorpore, portanto, o "princípio da incerteza", do filósofo Heisenberg, que Bion adotou e divulgou como sendo uma condição necessária para que alguém seja um bom psicanalista. Este princípio - hoje aceito por todas as ciências, logo, também pela psicanálise - alude ao fato de que a verdade é sempre relativa, e que a significação dos fenômenos observados dependem, em grande parte, da atitude e da posição do observador. Ademais, os físicos que ensinam a teoria quântica demonstram que, conforme a variação de algumas circunstâncias, o fenômeno da propagação da luz ora se faz sob a forma de partículas, ora de ondas. A propósito, caso você tenha se interessado por essa nova postura científica baseada na importância de que as incertezas são férteis, cabe-me lhe recomendar a leitura do livro Fim das incertezas, de Ylia Prigogine, um cientista russo, nascido em 1917, que vive na Bélgica desde os 12 anos e que, em 1997, recebeu o premio Nobel de Química.
9. Como decorrência do mencionado princípio, na sua prática clínica, cuide-se para nao cair e, tampouco, deixar o paciente cair em um dogmatismo moralista e doutrinário, com respostas já antecipadamente prontas e acabadas, do que resulta um sensível prejuízo da curiosidade, pensamento e escuta. Saiba que é bastante comum que um terapeuta iniciante apegue-se dogmaticamente rs suas certezas, como um recurso para sentir-se mais seguro, e que ele tente convencer seus pacientes dessas mesmas certezas enlatadas para, igualmente, reassegurá-los também. A psicanálise contemporânea enfatiza a necessidade e o objetivo de aceitar as contradições inconscientes, diferentemente dos princípios positivistas clássicos e da lógica racional de Aristóteles.
10. Desta forma, desenvolva ao máximo possível o atributo que Bion chama de "capacidade negativa", a qual se refere aquela capacidade que de negativo só tem o nome, uma vez que ela é altamente positiva pela razão de que alude r capacidade de o terapeuta analítico conseguir conter os seus próprios sentimentos negativos, de incertezas, dúvidas, angústia de não saber o que está se passando no campo analítico, e, é evidente, ele também deve conter os difíceis sentimentos contratransferenciais que as vezes, surgem. Tenha paciência, meu caro, até que as coisas se esclareçam na sua mente, para poder, então, trabalhar harmonicamente com o seu paciente.
11. Se você já está em formação analítica em alguma instituição conceituada como séria e competente, ou pensa ingressar em alguma destas, "vista a camiseta" dela, mesmo tendo eventuais discordâncias com a mesma. Empenhe-se ao máximo na aceitação (é diferente de submissão) e na preparação de todos os seminários teóricos e técnicos, pois os mesmos propiciam um estudo sistematizado de textos consagrados, com um franco debate com professores e colegas. O mesmo vale para atividades coletivas que reúnem membros e candidatos da instituição, sob a forma de apresentação de trabalhos clínicos, conferencias de visitantes, feitura e debate de relatórios, além dos demais trabalhos. Igualmente, sempre que possível, participe de tarefas administrativas, porque isso ajuda a forjar uma identidade psicanalítica. Se você tiver condições, participe de jornadas e congressos, de modo a conhecer outros colegas e ficar sendo conhecido, bem como para cultivar vínculos e fazer novas amizades. Tudo faz parte da construção de um indispensável sentimento de identidade de terapeuta psicanalítico. Ademais, também pesa o fato de que, se você quiser alguma variação na sua forma de trabalhar analiticamente, deve antes concluir uma formação clássica, de acordo com as diretrizes de sua instituição.
12. Não obstante eu reafirmar tudo o que já foi dito, cuide-se porque o analista pode correr o risco de ficar prisioneiro de sua formação, merce de um, possível, certo terrorismo que alguns responsáveis pelo ensino, assumindo o papel de vestais, fazem em nome da salvaguarda de uma rigorosa e cerrada ideologia da técnica psicanalítica. Isso pode induzi-lo a trabalhar sob a forma de uma "obediência automática", atrofiando a sua capacidade para indagar, pensar e criar. Daí decorre a explicação de por que algum analista, nessas condições, diante de situações imprevisíveis, angustiantes e singulares do paciente, fica cego (para uma outra visualização), surdo (a uma escuta empática) e paralítico (a uma ação adequada).
13. Exagerando um pouco, creio que vale fazer uma paródia da conhecida frase: "[...] existem mestres que ajudam o aluno a se tornar livre e mestres que criam escravos", de sorte que algo equivalente pode acontecer com um candidato em formação, que, então, fica amordaçado por um superego analítico. Entendo que um excessivo apego as teorias, sejam quais forem, ou rs expectativas do aludido "superego analítico" provocam a perda de um aquecido "contato" com o paciente.
14. Também é muito provável que, ao longo de sua formação, uma das decepções que muito provavelmente você já sentiu ou virá a sentir é quando perceber que freqüentemente existe uma certa incoerência e hipocrisia entre aquilo que muitos colegas e professores professam e escrevem e aquilo que realmente praticam no cotidiano de seus consultórios.
15. Nesta mesma linha de percepção e observação, se você quer identificar um professor, conferencista, supervisor, analista ou a você mesmo, se é autentico ou falso, procure observar se há coerência entre o que ele fala, faz e o que, de fato, ele é! Por exemplo, nada mais falso (e, rs vezes, grotesco) do que a constatação de um palestrante discorrendo, por exemplo, sobre a patologia do narcisismo, em uma postura flagrantemente sedutora, soberba, exibicionista, auto-laudatória, no limite da arrogância, sempre tomando a si mesmo como exemplo daquilo que deve ser o certo.
16. Tenha bem claro para si que o exercício do poder na instituição manifesta-se tanto por evidencias diretas (nos casos exagerados: um flagrante jogo de sedução, conchavos, ataques sutis, calúnias dissimuladas, intrigas, boatos...) quanto indiretas. Neste segundo caso, os sinais de exercício e de disputa pelo poder aparecem disfarçados, seja sob a forma de uma sólida e bem costurada racionalização, seja um deslocamento para causas ideológicas, que é feito com um toque de sutileza, a idealização de uma certa corrente psicanalítica, fanatismo nas crenças, paixões fundamentalistas, uma catequese retórica e, principalmente, um rodízio de poder entre as mesmas pessoas, por meio de eleições democráticas e legais.
17. Também é muito provável que, ao longo de sua formação, merce de algum sentimento de decepção, desilusão ou injustiça, ora aqui, ora acolá, você entre em um gradual processo de desidealização de sua instituição. Ao desanime. Isto até saudável é, porque você poderá crescer bastante se aprender com as experiencias de enfrentar e contornar as dificuldades. Ao acredite na hipótese de que em uma outra instituição similar (salvo quando ela está no início) não surjam problemas próprios do campo dinâmico grupal, como são os problemas inerentes ao narcisismo das pequenas diferenças e o dissimulado jogo de poder que perpassa pela cúpula diretiva. A dinâmica grupal que preside qualquer instituição, quer política quer de ensino, etc., tanto na sua face sadia quanto na patogênica, é virtualmente sempre a mesma. Não há problema no fato de sua instituição ter problemas; o problema seria o caso de ela não propiciar um amplo espaço adequado para a discussão das situações e condições problemáticas.
18. Discrimine a diferença fundamental que deve existir entre uma indispensável presença de autoridade e um nefasto exercício de autoritarismo. Quando não há uma autoridade realmente capaz, qualquer instituição, de qualquer natureza, nos casos excessivos, implanta um autoritarismo disfarçado de paternalismo, no qual prevalecem obstáculos de dependência, infantilização, vínculos do tipo sadomasoquista, certo apoderamento da mente e anulação daqueles que estão no plano inferior da pirâmide hierárquica.
19. Não basta você perceber e discriminar aquelas pessoas do escalão superior que detém a volúpia pelo poder. Também é necessário que não se deixe envolver nas malhas desse jogo político-narcisista, merce de promessas de você atingir o altar do Olimpo, caso comungue das mesmas idéias e ações dos donos do poder. É óbvio que alguém tem que exercer funções diretivas, e muitos fazem isso de forma denodada e competente. Também é certo que muitos de nós tem um talento natural para as indispensáveis tarefas administrativas. O alerta que, aqui, foi dado deve ficar restrito aos casos em que possa ficar picado pela mosca azul da ambição desmedida e, assim, aceitar e lutar por cargos que de tao deslumbrantes podem cegar e atrofiar outras capacidades. Quando Bion aborda este assunto, ele emprega uma frase que cabe ser mencionada: "[...] repleto de honrarias, ele abafou sua autonomia e criatividade, de modo que morreu sem deixar vestígios [...]".
20. Esteja preparado: você pessoalmente, assim como seus pacientes, a sua instituição e também a própria IPA passarão por sérias fases de crises. No entanto, não se preocupe em demasia, pois é sabido que as grandes transformações formam-se em situações de crises em seu apogeu. Para tanto é necessário que haja uma escuta adequada, que permita refletir depressivamente sobre os problemas, além de uma capacidade para sentir e conter sentimentos e fatos dolorosos, de modo a poder crescer com as experiencias.
21. Mais especificamente em relação a certas crises da instituição, elas podem transparecer por meio da formação de subgrupos. verdadeiras facções, que seguem de forma apostólica a liderança do psicanalista X, que freqüentemente são compostas por pacientes. ex-pacientes e, as vezes, supervisionandos dele, enquanto outros candidatos e psicanalistas mantem-se como fiéis escudeiros do psicanalista didata Y, e assim por diante.
22. Uma dissociação análoga pode acontecer entre os que pertencem a tal ou qual instituição de ensino psicanalítico, em uma rivalidade que pode atingir um grau de radicalização, desafeição e denegrimento recíproco, ambos os lados proclamando que a verdade está com eles. Em certo grau, essa situação adquire uma configuração de um partido político ou de um movimento religioso que prega princípios rígidos daquilo que é o certo ou errado, em defesa da "verdadeira" psicanálise, porém que, no fundo, não passa de uma racionalização para o exercício de surdas querelas narcisistas, em disputa pelo poder: Em resumo, abra mão dessa sucessão apostólica e fique alerta para o fato de que muitos fazem da psicanálise uma religião, quando ela não deveria ser mais do que um método de tratamento, por meio de uma fascinante ciência e arte que ela é.
23. Reitero a minha posição, já expressada: diante das prováveis decepções com a sua intuição (fato que, reitero, acontece com qualquer outra, assim como com a própria natureza de nossas vidas), mantenha uma antocontinência, paciência e não se intimide. Não tome nenhuma medida precipitada, cresça e curta com tudo que você está recebendo, de bom, fértil e gratificante da instituição, a um mesmo tempo que aprenda a administrar os aspectos que o desgostam. Se possível, aprenda com as experiencias emocionais, as boas e, principalmente, com as dolorosas.
24. O fenômeno da identificação é fundamental na sua formação como psicoterapeuta analítico. De forma análoga ao que se processa na criança que introjeta os modelos sadios e/ou patógenos, provindos especialmente de seus pais, também você está em pleno processo de fazer identificações com seu psicanalista. seus professores, supervisores... Lembre-se que, em situações patogênicas (na criança, no seu paciente, ou em cada um de nós), o objeto modelador tanto pode ser introjetado como todo-poderoso e divino, ou denegrido e demoníaco, assim provocando, respectivamente, uma predominante conduta de idealização, submissão, perseguição ou rebeldia. Não confunda identificação com imitação. O ideal é que você possa fazer múltiplas identificações, de sorte a incorporar alguns aspectos de figuras que você admira, e que lhe "servem como uma luva", a um mesmo tempo que se de o direito de ignorar outras características, mesmo das pessoas admiradas, que não "fecham com o seu jeito autentico de ser". Portanto, construa a sua própria identidade de psicanalista.
25. Neste mesmo contexto, construa também o seu próprio e genuíno estilo de trabalhar, sem nunca se afastar dos postulados essenciais que regem a técnica analítica. Cabe dizer que a técnica, com algumas variações de escola para a escola, mantém-se basicamente a mesma para todos os analistas, porém o estilo é bastante variável de um terapeuta para outro. Assim, algum de nós vai ser mais prolixo, enquanto um outro vai se caracterizar por ser mais silencioso; uns analistas são extremamente formais, outros, informais; alguns formulam as interpretações de uma forma sóbria e neutra, enquanto outros empregam um estilo coloquial, entremeando com o emprego de metáforas e coisas equivalentes. Respeitando a singularidade de cada situação analítica, e sem sair das regras técnicas, seja você mesmo! No entanto, esteja atento: muitos estilos de os analistas trabalhar adquirem um caráter patogênico no processo analítico, tal com está descrito no capítulo referente r "Atividade Interpretativa", no presente livro.
26. Como síntese do que se pode considerar como um bom modelo para a pessoa do psicanalista, tomo a transcrição que Otávio Paz faz, ao citar a metáfora da "pomba", do filósofo Kant: "Para voar, a pomba necessita vencer tanto a resistência do ar, como a atração para o solo, a força da gravidade; ela deve baixar r terra e encarnar-se entre os homens".
27. É útil ter em mente que você não é unicamente uma pantalha transferencial tecida pelo paciente por meio de deslocamentos e identificações projetivas na sua pessoa. Você também é uma pessoa real, com sua ideologia e idiossincrasias próprias, e com um "algo mais" que vai além das interpretações. De fato, a eficácia da terapia analítica depende, em grande parte, de uma adequada atividade interpretativa e, em parte, de um "encontro" (match) peculiar entre você com seu paciente. Você, somente como pessoa real, merce de sua ação e jeito sincero de ser, pode desconfirmar as impressões e expectativas patológicas que estão, de longa data, implantadas na mente do paciente, determinando o seu modo defensivo de se relacionar e conduzir. Como pessoa real, você também está sujeito a passar por crises existenciais (doenças, perdas, etc.) que podem influir marcantemente na sua eficácia analítica.
28. Procure minimizar esta interferência prejudicial, desenvolvendo uma capacidade de fazer uma dissociação útil do ego: isto é, reconheça e separe o seu lado analista do seu lado da pessoa humana que tem problemas, como todo mundo, sem deixar que uma dessas partes se confunda e interfira com a outra.
29. Ainda em relação r pessoa real que você é, cabe dizer da impossibilidade de separar a sua atividade interpretativa e a sua maneira verdadeira de ser. Por exemplo, uma mesma interpretação, igualmente certa, pode ser formulada de forma diferente por dois ou mais analistas da mesma competência e filiação escolástica, daí podendo resultar que a interpretação correta pode vir a ser eficaz, ou não. Para clarear melhor esta afirmativa, vou me socorrer de dois pensadores, um filósofo e um poeta. Bion, inspirado em Kant, filosofa poeticamente que, na situação analítica, "amor sem verdade não passa de paixão; verdade sem amor não é mais do que crueldade". Por sua vez, Yeats, o poeta britânico, verseja uma frase singela, porém, de uma profundidade e beleza, que deveria constantemente inspirar a nossa atividade interpretativa. Eis o trecho que selecionei para a sensibilidade do meu caro leitor: "[...] pisa, mas pisa devagar, com cuidado, porque estás pisando nos meus sonhos mais queridos".
30. Permita se envolver afetivamente com o seu paciente, porém - atenção ? sem ficar envolvido com ele. Com outras palavras: não confunda ser uma pessoa "boa" com ser "bonzinho" (as frustrações inevitáveis e a colocação de limites que contrariam o paciente são indispensáveis para o seu crescimento mental). Igualmente não permita que se confundam ou se invertam os respectivos lugares e papéis que, respectivamente, pertencem a cada um do par analítico. Assim, evite ser demasiadamente provedor, conselheiro e diretivo com seus pacientes.
31. A propósito dessa tendencia de o analista assumir uma posição de grandiosidade perante o seu paciente, cabe mencionar essa frase de Freud, pronunciada no seu último ano de vida:
Por mais tentado que possa sentir-se o analista a se tomar o educador, o modelo e o ideal de seus pacientes, qualquer que seja o desejo que tenha de moldá-los r sua imagem, ele precisa lembrar-se de que esse não é o objetivo que procura atingir na análise, e até de que fracassará em sua tarefa entregando-se a essa tendencia. Agindo assim, ele apenas repetiria o erro dos pais cuja influencia sufocou a independência da criança e substituiria a antiga sujeição por uma nova.
32. Prefira seguir a direção que Antônio Machado sentencia neste seu bonito verso: "Caminhante, não há caminho; faz-se o caminho ao andar". Assim, transposta para a situação analítica, essa mensagem poética encoraja-nos a caminharmos junto com o paciente, sem idéias, expectativas e projetos preconcebidos; antes disto, andarmos com ele por novas estradas, ao sabor da espontaneidade, até que o seu verdadeiro caminho na vida começa a se delinear e ganhar consistência e harmonia. O mesmo verso, fora da situação analítica propriamente dita, também ilumina que no lugar de transitar unicamente por caminhos analíticos com fronteiras bem-delimitadas, já bem-conhecidas, procure trilhar áreas de transição e intersecção entre as diversas ciências, as artes e o espírito. Procure, pois, fazer uma formação múltipla, não só no que se refere a um livre trânsito entre as diversas escolas dentro da psicanálise, mas também em uma aproximação dos campos da biologia, da física, da filosofia, da religião, da educação, da antropologia, da espiritualidade, da música e, naturalmente, da psicanálise.
33. Meu caro leitor: vou abrir para você uma discreta confidencia. Nos primeiros anos de minha formação psicanalítica, nos meados da década de 60, igualmente aos demais institutos brasileiros, nosso referencial de aprendizagem teórico-técnico consistia em um pouco de enfase em Freud (embora tenhamos feito todos os seminários curriculares preconizados pela IPA) e uma indubitável preferencia pelo estudo dos autores da escola kleiniana. Todos os demais autores eram estudados muito superficialmente, para não dizer "quase nada". Nossa excelente formação kleiniana possibilitou que trabalhássemos bem como psicanalistas. No entanto, com o correr dos anos, percebi que, na época, as supervisões coletivas e as apresentações de trabalhos clínicos (para promoção a membro associado ou efetivo) repetiam-se de uma forma monótona e monocórdica. Fazendo uma caricatura exagerada, cabe dizer que, em cada caso apresentado, só mudava o nome do paciente e o seu passado histórico, porquanto as considerações psicodinâmicas. sempre de fundamentação kleiniana, eram praticamente as mesmas. Quando, nos anos 70, comecei a redigir o meu trabalho para alcançar a condição de membro efetivo, percebi que eu estava incidindo em uma mesmice idêntica aquelas que, intimamente, tanto criticava. Lembrei-me da máxima que afirma que "cada um de nós descobre nos outros as mesmas falhas que os outros descobrem em nós". Não mais tive dúvidas, estava me violentando porque a minha mente estava saturada, impregnada com as concepções kleinianas que auxiliavam o suficiente para a análise evoluir bem, mas deixava a função de analisar algo repetitiva e tediosa. Concordei comigo mesmo que deveria ter mais paciência e me proporcionar um novo tempo, de sorte que suspendi a feitura do trabalho que já estava adiantado e decretei para mim uma espécie de período sabático (durou dois anos), durante o qual, salvo alguma situação especial, raramente eu freqüentava a Sociedade e me atirei r leitura de autores, como Bion, Winnicott, Kohut, Lacan, Joyce MacDougall, outros autores franceses e psicólogos do ego, entre tantos e tantos. Fiquei com a sensação de que se revelava para mim um outro universo psicanalítico. Sofri significativas influencias de muitos desses autores que, na época, em nosso meio, eram pouco conhecidos, em profundidade, porém confesso que foi com a obra de Bion que mais me identifiquei e a que mais me influenciou, e fez com que eu mudasse de forma substancial a minha forma de entender e trabalhar a prática psicanalítica cotidiana. Após dois anos, retomei a feitura do trabalho, em moldes muito distintos do original e que, pelo menos para mim, foi muito gratificante apresentar e debater com meus colegas da SPPA
34. Trouxe este exemplo pessoal, que talvez não seja o melhor ou sequer válido para outros, com o propósito de fazer o leitor refletir no fato de não ser necessário termos pressa exagerada na construção de nossa formação como psicanalistas; há momentos certos para tudo. Assim, meu jovem leitor, permito-me sugerir-lhe que você tenha sempre em mente a profunda sabedoria contida neste clássico trecho bíblico, do Eclesiastes (Velho Testamento, 3:11): "Existe um tempo para tudo [...]; um tempo para procurar e um para encontrar (também cabe dizer: "para semear e para colher"); para ficar em silencio e para falar; um tempo para amar e um para odiar; um tempo para a guerra e outro para a paz [...]".
35. Se possível, não fique confinado unicamente em seu consultório privado. A experiencia que você está adquirindo e acumulando pode ser muito útil em organizações que representam finalidades sociais, como escolas, hospitais, centros comunitários, órgãos políticos, etc. No entanto, esteja preparado para a possibilidade de que nosso instrumento primacial- a verdade, com base psicanalítica - possa vir a ser rejeitada e sabotada pelas cúpulas diretivas e outras pessoas dos respectivos órgãos, que desde cedo não foram preparadas para amar as verdades; pelo contrário, sentem-se ameaçados porque eles foram ensinados a não confiar naqueles que querem propor outros vértices de percepção e manejo das verdades.
36. O tratamento analítico pode alcançar somente um setor restrito da população; no entanto, a compreensão psicanalítica pode, sim, ajudar a muita gente, em diversos campos, como, por exemplo, da medicina e demais ciências humanísticas, a educação escolar e do público em geral, as múltiplas áreas transdisciplinares (jurídica, literatura, etc.).
37. Pavimente o seu caminho para a aquisição de sabedoria, o que é muito diferente de uma acumulação de conhecimentos e erudição. A propósito, creio que cabe mencionar novamente a Bion quando ele afirma que "[...] é necessário muita ciência para fabricar uma bomba atômica, porém é preciso muito mais sabedoria para não usá-la como uma arma destrutiva contra a humanidade".
38. Lembre-se que antes de você ser um médico, psicólogo, psiquiatra ou psicanalista, você é gente como a gente, um ser humano comum, sujeito de mesmas grandezas, fragilidades e pequenezas como qualquer outra pessoa. O reconhecimento deste fato pode ajudá-lo bastante a ser uma pessoa mais simples (é muitíssimo diferente de "simplória"), mais próximo e empático com o seu paciente.
39. Finalmente, não gostaria de concluir esta carta sem enfatizar a importância de você não ter pressa em amadurecer como psicoterapeuta analítico, prefira uma marcha mais lenta, porém consistente e progressiva, em meio a dúvidas, angústias, limitações, omissões e inevitáveis falhas (não custa reiterar que não existe o menor problema em cometermos erros, desde que tenhamos a capacidade de aprender com as experiencias, as boas e, principalmente, aquelas em que cometemos equívocos e erros), no lugar de rapidamente considerar-se "pronto". Se você tiver essa capacidade de paciência, ser-lhe-á muito útil para trabalhar com os seus pacientes, com vistas a esse mesmo objetivo de um, gradativo, desenvolvimento maduro.
40. Assim, para ilustrar o que disse, entendi incluir nesta carta uma mensagem intitulada "Amigos", que considero altamente afetiva e tocante, que li e guardo o recorte como um bem precioso, embora não tenha conseguido descobrir o nome do autor. Para não mutilar o tom poético que emana dessa mensagem, resolvi transcreve-la na íntegra. Lembre-se que essa fábula vale para você e para os pacientes que trata ou virá a tratar:
Um dia, uma pequena abertura apareceu em um casulo; um homem sentou e observou a borboleta por várias horas, conforme ela se esforçava para fazer que seu corpo passasse através daquele pequeno buraco. Então pareceu que ela havia parado de fazer qualquer progresso. Parecia que ela tinha ido o mais longe que podia e não conseguia ir mais.
Então o homem decidiu ajudar a borboleta: ele pegou uma tesoura e cortou o restante do casulo. A borboleta, então, saiu facilmente.
Mas seu corpo estava murcho e era pequeno e tinha as asas amassadas.
O homem continuou a observá-la porque ele esperava que, a qualquer momento, as asas dela se abrissem e esticassem para serem capazes de suportar o corpo que iria se afirmar a tempo.
Nada aconteceu! Na verdade, a borboleta passou o resto de sua vida rastejando com um corpo murcho e asas encolhidas. Ela nunca foi capaz de voar. O que o homem, em sua gentileza e vontade de ajudar, não compreendia era que o casulo apertado e o esforço necessário r borboleta para passar através da pequena abertura era o momento pelo qual Deus fazia com que o fluido do corpo da borboleta fosse para as suas asas, de forma que ela estaria pronta para voar uma vez que estivesse livre do casulo. Algumas vezes, o esforço é justamente o que precisamos em nossa vida.
Se Deus nos permitisse passar através de nossas vidas sem quaisquer obstáculos, ele nos deixaria aleijados. Nós não iríamos ser tao fortes como poderíamos ter sido. Nós nunca poderíamos voar.
Eu pedi forças...e Deus deu-me dificuldades para me fazer forte. Eu pedi sabedoria...e Deus me deu problemas para resolver. Eu pedi prosperidade... e Deus me deu cérebro e músculos para trabalhar. Eu pedi coragem... e Deus me deu pessoas com problemas para ajudar. Eu pedi favores... e Deus me deu oportunidades.
Eu não recebi nada do que pedi...mas eu recebi tudo que precisava.
Meu prezado leitor, peço desculpas se me alonguei demasiado, ou se fui exagerado, ou equivocado em algumas observações. Guardo a esperança de que esta carta possa ter alguma valia prática para você. De qualquer forma, fui fiel a um forte desejo que me acometeu de escreve-la para um novo amigo, e eu ficaria muito grato se você me devolver, com as suas opiniões, críticas e sugestões a respeito dela. Despeço-me desejando-lhe boa sorte e sucesso na sua atividade de psicoterapeuta analítico e deixo o abraço carinhoso e agradecido pela sua atenção.
Do amigo
David E. Zimerman

O presente texto é um excerto do livro Manual de Técnica Psicanalítica: uma revisão, Ed. Artmed, 2004, pág. 453-460.
                                                                                                enviado por Sonia Pineda Vicente
 

sábado, 30 de abril de 2011

ATRIBUTOS DO PSICANALISTA


Uma reflexão

Sonia Pineda Vicente

“Cada analista deve ter em mente, de modo claro, quais são as condições mínimas necessárias (cmn), para si mesmo, nas quais ele e o seu paciente podem fazer o trabalho”
                                                                                                          (conversando com BION 1992, p.75)

“A prática da psicanálise é muito difícil. A teoria é simples. Não basta saber todas as teorias. Um bom analista está sempre lidando com uam situação desconhecida, imprevisível e perigosa.
                                                                                                                                         (Bion, 1987, p.5)

EQUIVALÊNCIA: PAIS E FILHOS = ANALISTA E ANALISANDO

(...) “A única coisa que parece ser básica, não é tanto aquilo que fazemos, mas aquilo que vivemos, aquilo que somos. É por isso que é tão importante que os pais sejam capazes daquilo que eu chamo de amor ardente. Aí a criança tem uma chance de aprender algo a partir do modo que os pais se comportam. Nada em sua educação escolar, nem em qualquer outro lugar, pode lhes ensinar isto.”
                                                                                                                                      (Bion, 1992, p. 46)


O QUE DE FATO É NECESSÁRIO?

  1. Boa preparação teórica ou técnica do

Analista


  1. Atitude interna do psicanalista

  1. Composta de uma série de atributos

  1. Um jeito autêntico dele ser




ATRIBUTOS:

  1. IDENTIDADE ANALÍTICA = manter-se o mesmo.
Servir como um espelho ao analisando, onde ele possa mirar-se de corpo inteiro e reconhecer as distorções especulares.

  1. AMOR A VERDADE = capacidade de ter fé na existência de uma realidade e verdade últimas.

  1. CAPACIDADE DE SER CONTINENTE

  1. PREMONIÇÃO = capacidade de antecipação = pressentimento.

  1. PACIÊNCIA = suportar a dor da espera.

  1. CAPACIDADE NEGATIVA = permanecer em incertezas, mistérios, dúvidas sem desejo, sem memória e sem compreensão.

  1. INTUIÇÃO = capacidade de se olhar para dentro, ou de dentro ( não sensorial/transcendental ).

Kant: “ a intuição sem conceito é cega; conceito sem intuição é vazio”
Bion: “o analista deve saber escutar não só as palavras e os sons, mas também a música”
  1. EMPATIA = em (dentro) pathos (sofrimento) = Analista se coloca no lugar do Analisando.

  1. COMUNICAÇÃO = tornar comum, com – um, no sentido de uma unidade de intercâmbio entre o emissor e o receptor.

10.DISCRIMINAÇÃO = fazer separações: o que é do analista e o que é do analisando, entre o que é
patológico e o que é sadio em ambos...

11.ÉTICA = ETHOS = território natural – não invadir o espaço autêntico do analisando.

12.RESPEITO = aceitar o analisando como ele de fato é , ou pode vir a ser, e não como o analista gostaria que fosse. RE – ESPECTORE ( OLHAR DE NOVO)

13.CORAGEM = cor: do coração: atitude interna do psicanalista.

     Psicanálise “é uma palavra em busca de um significado; um pensamento esperando por um pensador; um   conceito aguardando por um conteúdo”  

                                                                                                                                 (BION, 1992 , p. 145)


Bion sempre estimulou os seus pacientes, discípulos e analisandos, a darem livre curso á imaginação, isto é, como ele costumava dizer: deixem a imagem – em – ação
(GRADIVA nº 43, p.10)



O maior empenho de toda a obra de Bion consistiu exatamente em buscar e apontar os possíveis caminhos para não nos afastarmos do estado de fé, verdade e esperança.”
(ZIMERMAN, 1995, p. 284)



Freud e o Homem dos Ratos - parte 1

FREUD E O HOMEM DOS RATOS



Eraldo S. L. Teixeira
Orpheu Cairolli
Sonia Pineda Vicente
Telma A. L. Carlos
(1*)

Homem dos Ratos é o nome pelo qual ficou conhecido um texto de Freud(19) dedicado à neurose obsessiva. O título original é: Observações (Bemerkungen) sobre um caso de neurose obsessiva (Zwangneurose). Trata-se, por conseguinte, de uma espécie nome de guerra (e é verdade que há uma guerra deste sujeito consigo mesmo!) visto que o verdadeiro nome do paciente de Freud, tal como veio a saber-se mais tarde, era Ernst Lanzer. No entanto, ao relermos este texto paradigmático, somos levados a crer – guiados pela mão de Freud, mas também, e sobretudo, pelo discurso do próprio paciente - , que Homem dos Ratos é, afinal, o verdadeiro nome próprio deste sujeito.
Síntese
Freud tratou um jovem cujo trabalho foi publicado como "Homem dos Ratos" (1909)(19) (Vol. X da Coleção das Obras Completas de Freud da Editora Imago). Freud procurou formular, a partir do estudo do caso, uma explicação sobre a neuro-se obsessivo-compulsiva à luz da teoria psicossexual do desenvolvimento. Para tan-to, realizou uma descrição rica e precisa de rituais e obsessões que seu paciente apresentava, buscando interpretá-los à luz de sua teoria. Tal concepção prevaleceu até pouco tempo atrás, quando novos fatos vieram modificar essas concepções.
O paciente, um jovem de educação universitária, apresentou-se a Freud com a queixa de obsessões desde sua infância, mas com uma maior intensidade nos úl-timos 4 anos de sua vida. Sofria de TEMORES de que algo acontecesse a duas pessoas de quem mais gostava - seu pai e uma jovem a quem admirava.

Além disso, tinha consciência de IMPULSOS COMPULSIVOS - tais como, por exemplo, de cortar sua garganta com uma navalha -, produzindo posteriormente PROIBIÇÕES, muitas vezes em conexão com coisas triviais, como no dia em que a jovem de quem gostava ia partir e ele bateu com o pé numa pedra da estrada em que caminhava, e foi obrigado a afastá-la do caminho, pondo-a a beira da estrada, pois lhe veio à idéia de que o carro dela iria passar e poderia acidentar-se nessa pe-dra. Contudo, minutos depois pensou que era um absurdo, e foi obrigado a voltar e recolocar a pedra à sua posição original.
A experiência que precipitou a primeira consulta do paciente com Freud ocor-reu quando estava em manobras em uma unidade militar. Um oficial descreveu uma forma de tortura na qual o prisioneiro ficava sentado nu, amarrado sobre um recipi-ente contendo ratos, que buscavam escavar seu ânus em busca de uma saída. Tal pensamento passou a invadir sua mente sem que fosse capaz de evitá-lo, causan-do-lhe grande aflição. Achava que isso poderia acontecer com a jovem de quem gostava e com o pai, já falecido há nove anos. Como forma de evitar essa obsessão empregava uma fórmula particular, dizendo a si mesmo: "Mas", acompanhado por um gesto de repúdio, e depois: "O que é que você está pensando?"
O jovem passou anos combatendo essas e outras idéias, conforme relatou, perdendo, deste modo, muito tempo de sua vida. Vários tratamentos haviam sido tentados, com nenhum efeito positivo.
A análise de Freud concentrou-se na ambivalência do paciente para com seu pai e a jovem a quem cortejava, originada em sua sexualidade precoce e intensa e sentimentos antigos de raiva contra seu pai - que haviam sido severamente reprimi-dos. O símbolo do rato levou Freud e o paciente a uma série de associações que incluíam erotismo anal, lembranças de excitações anais quando o paciente em cri-ança eliminava lombrigas (que Freud interpretava como simbolizando um pênis), e o fato de ter sido espancado pelo pai aos 4 anos de idade por ter mordido uma pes-soa. Associou ainda com problemas antigos do pai do paciente com o jogo (em ale-mão, um jogador é uma spielratte - ou rato-do-jogo), a idéia infantil do parto anal e a própria experiência real de haver tido verminose quando criança. Após um ano de análise, o paciente curou-se de seus sintomas e, nas palavras de Freud, "o delírio dos ratos desapareceu".
Segundo Freud, a história dos ratos é um ponto nodal (ein Knotenpunkt) onde vêm entroncar os diversos fios da meada. Mas como situar esta coisa: como signifi-cante? Como objecto? Ou como um misto de significante e de objecto? Não faltam, no texto de Freud, elementos que apoiam uma ou outra das diversas posições. Ve-jamos: Em primeiro lugar, é evidente que se trata de um significante, quer dizer, de um termo que serve de base a uma ou várias equações simbólicas do tipo: ra-to=pai=pênis=coito=criança=florins, etc. Tudo isto assente no mero jogo significante (e mesmo literal) da palavra rato. Vejamos apenas alguns exemplos, tais como eles aparecem na fala do paciente: Raten (prestações, pagamentos), Ratten (ratos), Spielratte (rato-de-jogo), Heiraten (matrimónio) e por aí fora. No capítulo final – O complexo paterno e a solução da ideia dos ratos – bem como nas Notas manuscritas sobre o relato original do caso, este trabalho de Freud com base no significante – guiado pela própria fala do sujeito – está bem patente. Deste ponto de vista, a análi-se tenderia no sentido de uma progressiva significantização da experiência, de forma a restituir ao sujeito o sentido (perdido) da sua história. E, em última análise, esse sentido poderia formular-se numa única frase. E é interessantíssimo ver como Freud acredita, no fim de contas, ter chegado a essa frase. Vejam-se as páginas 1471-72 (op. cit): “devolverei o dinheiro ao tenente A. quando o meu pai e a minha noiva tive-rem filhos”. Ou: “É tão certo devolver o dinheiro como o meu pai e a minha noiva po-derem ter filhos”. Quer dizer, num caso ou noutro, é impossível. Um desejo impossí-vel de realizar. Ou realizando-se – isto é, auferindo uma satisfação – sob a forma desse impossível.

Comentários 
De uma forma muito rica e detalhada Freud descreveu os sintomas do trans-torno obsessivo-compulsivo (até bem pouco: neurose obsessivo-compulsiva): ob-sessões e compulsões, rituais de anulação, que procurou interpretar à luz de seu modelo psicossexual do desenvolvimento. Particularmente são ricas suas descrições sobre a forma de pensar do paciente obsessivo-compulsivo modernamente retoma-
das e valorizadas pelas teorias cognitivas do TOC: a importância exagerada do pen-samento, a dificuldade de conviver com a incerteza, a necessidade do controle, o perfeccionismo, o responsabilidade exagerada. Freud destacou ainda o isolamento dos afetos em relação às idéias, a ambivalência, a anulação, o Superego severo, como fenômenos associados ao TOC, e em função dos sintomas do seu paciente supervalorizou os sintomas relacionados com ânus, fezes, defecação e sadismo, que no seu entender apoiavam sua teoria.
O Homem dos Ratos é um exemplo de um lado da genial capacidade de Freud para captar e descrever fenômenos clínicos, e ao mesmo tempo de vieses nos quais incorria em função de suas próprias teorias. De qualquer forma sua descrição detalhada e sua interpretação elegante à luz de suas próprias idéias, prevaleceram por quase um século como a teoria sobre a origem do transtorno obsessivo-compulsivo, embora fossem de pouca utilidade no seu tratamento.
Atualmente, o transtorno obsessivo-compulsivo é visto como um transtorno neuropsiquiátrico, para cuja origem concorrem fatores de ordem biológica, como vul-nerabilidade genética, disfunção neuroquímica cerebral, o ambiente familiar em que foi educado. Tem sido também muito valorizada a relação funcional entre obsessões e compulsões, ou seja, o fato de o paciente descobrir (aprender) que os rituais alivi-am a ansiedade associada às obsessões e passa por este motivo a repeti-los. Têm sido também destacadas determinadas crenças errôneas que auxiliam na manuten-ção da doença: como a avaliação irreal do risco, a importância exagerada que estes pacientes dão aos seus pensamentos, o perfeccionismo, e necessidade de ter con-trole e certeza entre outros. Seu tratamento, em função desses novos fatos, passou a ser a farmacoterapia associada à terapia cognitivo-comportamental, e não mais a psicanálise.
Luiz Miller de Paiva32 nos relata que a neurose obsessiva ou transtorno ob-sessivo compulsivo de ajustamento (F.42 e 43 do Cid 10) nos mostra um cerimonial complexo, reconhecido pelo próprio paciente, podendo chegar a um grau avançado como sói ocorrer nos episódios obsessivos graves com sintomas psicóticos (F.32.3), na síndrome de Asperger (F.84.5), e na esquizofrenia simples (F.21). Todavia, nos transtornos da personalidade esquizóide, os sintomas apresentam-se mais amenos
embora sejam originários na infância, produzidos pela predisposição genética ou insegurança ontológica (Laing,1963 in::32 ). A nosso ver, o mais grave problema do obsessivo está no seu comportamento que parece, a primeira vista, normal; todavia, em sentido mais profundo, trata de uma alteração estrutural do sistema nervoso, principalmente no cérebro reptiliano, produzindo sintomas graves de conduta, haja vista a atitude revolucionária levando à guerra. A explicação deste fenômeno obses-sivo parece ser devida à herança do ser humano de três tipos de cérebro: reptiliano, paleomamífero e neomamífero, que apesar de diferenças estrutural e metabólica, agem em conjunto (LEAKEY,1979 in: 32 ).
________________________

1* Membros da AEPSP - Associação de Estudos Psicanalíticos de São Paulo

Freud e o Homem dos Ratos - TOC - parte 2

Obsessão como defesa reativa:

O sintoma obsessivo funciona como se o perigo estivesse constantemente presente exigindo do indivíduo uma sistemática defesa contra ele.
A anulação de certa forma está ligada à formação reativa. Isto ocorre por exemplo, nos atos compulsivos, onde o segundo ato é a inversão do primeiro. Na repetição com intenção diferente. Essas repetições teriam o objetivo de anular o sentido inconsciente real do ato, dando-lhe um significado oposto.
A aparente falta de afeto do obsessivo baseia-se num isolamento. No obsessivo o amor não extingue o ódio, mas apenas o mantém no inconsciente onde a consciência não o percebe.
Esta singular constelação da vida amorosa parece ter sua condição em uma dissociação muito primitiva, acontecida no período infantil dos dois elementos antitéticos, com repressão de um deles, principalmente do ódio.
A obsessão é sempre desagradável - não existem obsessões agradáveis -, sempre suja e, entretanto, o prazer que o sujeito tem a considerar e reconsiderar o tema obsessivo que paralisa toda decisão e toda atividade, é muito claro. A obsessão vincula no ir e vir do pensamento como o objeto anal no ventre.
No obsessivo, parece estabelecer uma ruptura definitiva entre o ser (identidade) e o ter (objeto), tanto ao nível de mundo interno quanto em relação ao mundo externo. Para ser assim considerado deverá ser mantido um hiato permanente entre os dois, como sói ocorrer na derriça conjugal. Ser mumificado para eternizar os defeitos e mostrá-los a todos. O terror à decomposição, não propriamente à morte ou ao cadáver, revela a necessidade de se fixar, mesmo à custa de se cadaverizar. Não suporta os estágios intermediários – e a vida é exatamente esse estágio entre duas “certezas” (nascimento e morte). Precisa viver sob o pensamento da morte para evitar ser surpreendido. O pensamento desenvolve-se satisfatoriamente durante o contato íntimo com a mãe na lactação; se houver por parte maternal, amor e reverie formar-se-ão bons pensamentos; caso contrário, se a mãe não for amorosa, afetuosa e não ter reverie suficiente, o bebê poderá ter pensamentos agressivos dos mais variados tipos chegando até prejudicar no futuro, a função mental. Ao se formarem, os pensamentos constituem também as fantasias sexuais cujos aparecimentos podem-se dar posteriormente, seja na infância, adolescência ou idade adulta, revelando persistência da certas impressões existentes no primitivismo cerebral. A perver-são se origina, portanto, durante a lactação. Se o bebê não receber reverie e nascer com insuficiência ontológica, com má estrutura do cérebro reptíliano, poderá causar uma defesa precoce da formação do pensamento e, no adulto, a perversão sexual (sexualidade destrutiva, fetichismo ou transexualismo) e principalmente uma agressividade do tipo obsessivo contra a sociedade.
São freqüentes os conflitos sexuais na personalidade obsessiva e dos mais variados tipos de perversões. Quanto maior a rejeição da mãe nos primeiros períodos de molde, maior destrutividade no ato genital quando adulto. Mãe hostil levaria, com mais freqüência, ao coito sádico e orgasmo precoce, orgasmo somente clitorídeo, fetichismo, estupro, pedofilia etc., Murphy et al.(1987in: 32) verificaram que além da testosterona, o aumento de vasopressina e oxitocina durante o orgasmo tanto em animais como no homem gera maior agressividade ao ato. Pasmem, só este fenômeno tão agressivo transforma o ato de amor em “sexo objeto” tão prejudicado a nossa civilização.

Repetição Compulsiva  

A repetição compulsiva é ansiedade, associada a uma dependência do objeto primário, que reativa a mais arcaica situação de inveja. O ódio e a ambivalência resultante desta situação - que, inevitavelmente, se converte em culpa e depressão - torna-se intolerável. A repetição parece sobrepor o princípio do prazer. Na doença do neutro, o paciente necessita repetir a sensação de ser abandonado novamente, usando toda a sua agressão contra o analista: a necessidade de ser abandonado mais uma vez (Miller de Paiva, 1994)(26).

Freud e o Homem dos Ratos - TOC - parte 3

Mecanismo etiopatogênico das obsessões e tratamento:

Qualquer sentimento pode ter manifestação bioquímica, podendo não ser perceptível pelos métodos atuais de pesquisa. Anos atrás somente a emoção era considerada como produtora de manifestações bioquímicas, das quais resultavam a taquicardia, dispnéia, sudorese, etc.; todavia, estes sentimentos, acarretando alterações enzimáticas, hormonais, quando constantes, podem produzir alterações patológicas, como sói ocorrer na aterosclerose, hipertensão, câncer (certos tipos), doenças auto-imunes, etc. Aliás, neurônios cerebrais através da tomografia computadorizada “high-speed” digital eletrônico mostravam como os alucinógenos podem causar alterações estruturais o que vem confirmar a fragilidade do ego. Parece que certos obsessivos “esclerosam” as sinapses, daí a sua “poda” prejudica a saúde (ela deve ser corrigida quanto antes). Por este mecanismo psicopatológico é que podemos explicar a dificuldade de melhoras dos sintomas obsessivos e principalmente diante dos cerimoniais repetitivos na política, na religião e na ciência.
De maneira sumária, o mecanismo psicopatológico na ansiedade seria: os conflitos conscientes e inconscientes atuariam através do cérebro visceral, principalmente pelo cérebro reptiliano, amídala do hipocampo, núcleos do tronco cerebral e do prosencéfalo (que liberam monaminas e peptídeos) através dos circuitos de Papez e sistema retículo-endotelial, que acabam alterando o modo de processamento de inúmeros outros circuitos cerebrais desencadeando determinados comporta-mentos (Damásio,2000 in:32) por estimular hormônios e sintomas do simpático e do parassimpático, o primeiro para a “luta ou fuga” por intermédio das norepinefrina e epinefrina, e o segundo para as defesas regressivas e de conservação, principal-mente por meio dos neuropeptideos Achados recentes (Miguel,1996 in:32) mostram aumento da oxitocina no T.O .C. e ausência do aumento da arginina-vasopressina. Por sua vez, todas estas substâncias voltariam ao cérebro, principalmente ao sistema límbico, às zonas pré-frontais e TOP, produzindo parte dos sintomas ansiosos e
obsessivos. É a perda de segurança e de controle, acarretando “o medo de ter me-do”, levando-o a evitar entrar em contato com o objeto perigoso.
O neurótico obsessivo, principalmente quando portador de pânico, apresenta um ego esburacado por ter faltado como já vimos, a matriz de confiança materna acarretando um frágil centro de sustentação.
Por deficiência de reverie da mãe não há sustentação básica interna, mas o próprio centro de sustentação é também, deficiente, pois ele se ataca fragmentando seu self.
Grotstein (1991in:32) fala em cimento de sustentação. A personalidade do obsessivo é frágil e não suporta as emoções saturadas de violência por sentirem como sinais de catástrofe, motivo pelo qual os obsessivos abandonam com freqüência a terapia.
A confirmação desamparo (realidade catastrófica) à impossibilidade de lidar com o processo de viver; quanto maior for o contato emocional, maior será o esvaziamento, pois a dor mental sentida seria como fosse explodi-lo ou implodi-lo, sendo maior o seu esvaziamento, é a poda das sinapses (pruning). A sua parca resistência é por ter tido a vida inteira insuficiência ontológica o que acaba por enfraquecer o seu cérebro reptilíneo. Por vezes, como defesa, necessita a paralisação da mente e até do corpo - é a ruptura com a vida, a morte em vida ou o morto-vivo ou doença do neutro.
O terapeuta deve fornecer muito Eros terapêutico, afeto, carinho, reverie, principalmente segurança afetiva - aquilo que os seus pais não lhe deram, porém utilizando-se sempre da educação baseada em “mão de ferro em luva de pelica” aonde não deve haver agressividade e, evidentemente, associando-se às drogas psicoterápicas (tricíclicas, benzodiazepinas, fuvoxamina, sertralina e atualmente a olanzapina, a risperidona e aripiprazol). Só assim enfrentaremos os conflitos profundos do paciente: a sua insatisfação pela vida, sua indiferença, doença do neutro, a autodestruição, neurose de sucesso, o caos, o sem sentido, a aspiração do nada, o niilismo. Outrossim, evitaríamos a pulsão destruidora, tal como no caso do escorpião que pediu auxilio ao sapo para atravessar o rio: “mas você prometeu não me picar...”
“Eu não posso fazer nada, é o meu instinto”! O mesmo se passa com o povo impe-rialista e conquistador...
Precisamos combater o instinto de morte. Tudo isto pode ser tratado pelo bom senso humano também, além da técnica psicanalítica evitando nesta a transferência misconceptiva que é de importância capital, na qual se acentua o aparecimento do “holding winnicottiniano”, o aumento da sustentação grotsteiniano e do “portance” de Quinodoz (1993 in:32), que é a capacidade de suportar e elaborar a angústia de sepa-ração, isto é, perdoar, realmente, os pais pelas fantasias inconscientes que existi-ram e tornaram o “hominidae” infeliz. Por outro lado, encontrar e enfrentar a matriz mais profunda de tal necessidade basilar da espécie humana como suporta ao me-do, ao temer de alguma coisa mais primitiva, anterior ao que foi recalcado, segundo os conceitos de Ferro (1998 in:32) e de Bion (1979in:32, )2,3 quanto a existência na psi-que de “ medos sub-talâmicos”.
Pelos conhecimentos antropológicos, farmacológicos (aplicação eficaz das drogas) e grupanálise, precisamos também da ciência sociológica. É evidente a im-portância do estado de saúde do cérebro reptiliano e ainda mais a repetição compul-siva no cão quando se joga algo e ele traz de volta, inúmeras vezes; ele, cão; deixa-rá de trazer se dermos a fluoxetina pois tonificará seu cérebro reptiliano. Poder-se-ia pensar em prescrever os fármacos para toda a humanidade para assim evitarmos os conflitos, guerras etc, pois fortaleceríamos os neurônios e suas sinapses! Esta atitude seria ilusória; todavia, se pudéssemos educar os pais para que os filhos tivessem bons pensamentos, talvez poderíamos evitar o fim da nossa civilização, principal-mente se surgisse concomitantemente, um novo líder espiritual, com grande poder carismático.
Outrossim, se evitássemos as obsessões existentes na humanidade, decorrentes de excesso de culpa por simples fantasias inconscientes como sói ocorrer nas atitudes dos religiosos sejam católicos, evangélicos ou muçulmanos (identificando com Jesus para se purificarem, o que é útil, mas que exageram as verdades da Bíblia utilizando suas interpretações metafóricas); os judeus religiosos seguindo, por fatores inconscientes, o ensinamento de defender a Terra Santa através do mito de Canaã (pois poderiam construir o Estado de Israel no Quênia ou no Amazonas e
deixar a capital na Palestina), mas persistem masoquisticamente a voltar ao espaço de terra dito pelos seus ancestrais, finalmente, os pensamentos obsessivos evitados não haveria as mortes de pessoas em revoltas, como em Belfast ou no Afeganistão.
Assim teremos o predomínio do Amor e da Virtude Moral devido ao conheci-mento das verdadeiras causas da Ekypirosis, que são as fantasias inconscientes destrutivas que precisam ser evitadas pela educação(32).

Freud e o Homem dos Ratos - TOC - parte 4

O TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO (TOC)

INTRODUÇÃO

Se no passado os transtornos obsessivos compulsivos (TOC) eram considerados como problemas psiquiátricos raros e impossíveis de tratar, hoje se admite que, na realidade, trata-se de um problema comum, que afeta cerca de 2 a 3% da população geral. Com base nestas cifras, estima-se que mais de 100 milhões de pessoas no mundo inteiro sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos. Nossa perspectiva mudou com a recente descoberta de que esses transtornos reagem a um determinado grupo de medicamentos.
Agora, não somente existe um tratamento para inúmeras pessoas que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos, mas também o fato de atualmente a ênfase não mais ser colocada sobre causas psicológicas mas sim sobre a química cerebral.
Essa é a razão pela qual a origem bioquímica desses transtornos tem sido objeto de várias pesquisas durante os últimos anos. Este guia relata a natureza química desses transtornos freqüentes, e agora curáveis, bem como seu diagnóstico. O tema aborda os novos métodos do tratamento e propõe conselhos mais gerais aos pacientes, aos seus familiares e aos amigos mais próximos.

O QUADRO CLÍNICO DOS TRANSTORNOS OBSESSIVOS COMPULSIVOS

PREVALÊNCIA

A prevalência dos Transtornos Obsessivos Compulsivos na população geral é de 2 a 3%. Acredita-se atualmente que, depois da depressão, os Transtornos Obsessivos Compulsivos constituem o segundo problema mais freqüente na psiquiatria. Estima-se que sua prevalência seja mais elevada que a da esquizofrenia, as síndromes do pânico ou os problemas de anorexia.
A prática clínica revela que 1 em cada 50 pessoas sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos.
Os Transtornos Obsessivos Compulsivos afetam igualmente homens e mulheres de todas as idades e de todos os grupos étnicos. Eles se instalam durante a adolescência ou no início da idade adulta.
No passado, os pacientes esperavam às vezes 7 anos após o início dos sintomas para procurar ajuda médica, e somente se os sintomas fossem graves o sufi-ciente para afetar sua vida social e seu trabalho.
É importante modificar essa evolução que implica em demasiado sofrimento, tornando os pacientes conscientes do diagnóstico de Transtorno Obsessivo Compulsivo e do fato de agora existir um tratamento para esses transtornos.


Freud e o Homem dos Ratos - TOC - parte 5

AS CARACTERÍSTICAS DOS TRANSTORNOS OBSESSIVOS COMPULSIVOS

Os Transtornos Obsessivos Compulsivos são uma doença crônica e debilitante, caracterizada por pensamentos invasores, recorrentes, não desejados (obsessões) que provocam uma ansiedade e/ou comportamentos irracionais, repetitivos e do tipo ritual, que os pacientes se sentem obrigados a adotar (compulsões).


FREQÜÊNCIA DOS SINTOMAS OBSESSIVOS E COMPULSIVOS

OBSESSÕES :

Contaminação 45%
Dúvida patológica 42%
Asco de funções fisiológicas 36%
Necessidade de ordem 31%
Agressividade 28%
Obsessões sexuais 26%
Várias Obsessões 60%


COMPULSÕES:

Verificar 63% 
Limpar 50% 
Calcular 36% 
Fazer perguntas ou confessar-se 31% 
Simetria, precisão 28%
Acumular 18% 
Várias compulsões 48% 

Extraídos de Rasmussen S.A. and Eisen J.L.: J.Clin. Psychiatry 1992; 53 (4, suppl.): 4-10 

Em geral, os Transtornos Obsessivos Compulsivos se instalam ao longo dos anos, em cujo curso os sintomas do paciente podem variar em intensidade. Nos primeiros estágios, o paciente pode querer verificar se é capaz de dominar os sintomas obsessivos e compulsivos. Em certos casos, os rituais compulsivos tomam o tempo de tal forma que passam a dominar o paciente e a interferirem totalmente em sua vida. Em outros casos, o paciente pode estudar uma maneira de adaptar-se aos sintomas obsessivos compulsivos, entretanto, os sintomas continuam a ser por demais incômodos.

Freud e o Homem dos Ratos - Algumas formas de TOC - parte 6

CASOS ILUSTRATIVOS DE ALGUMAS FORMAS DE TOCs

a. O medo da contaminação

Um estudante adolescente está convencido de que se ele tocar maçanetas, trincos e puxadores de portas e de outros objetos, ele será contaminado pela sujeira ou micróbios. Ele passa horas lavando as mãos e a evitar qualquer contato social com as outras pessoas, por acreditar que será contaminado. 

b. A verificação compulsiva 

Uma jovem mamãe está convencida de que ela vai fazer mal ao seu filho. Inca-paz de banir seus sentimentos obsessivos de sua mente, ela verifica de maneira repeti-da os ingredientes relacionados nas embalagens dos alimentos, a fim de se certificar de que eles não vão envenenar a criança.


c. A repetição das ações

Um advogado de meia-idade sente-se obrigado a conferir, depois de arranjar em uma ordem precisa, os objetos sobre uma estante. Ele completa essa série de ações todos os dias antes de partir para o trabalho. Se ele não ficar satisfeito com o cumpri-mento do ritual, ele o recomeça depois de tê-lo iniciado, e chega bastante atrasado ao trabalho.


O TRATAMENTO DOS TOCs 

Durante a última década, mudaram-se as perspectivas para os pacientes porta-dores de Transtornos Obsessivos Compulsivos. Em geral, os métodos psicoanalíticos tradicionais baseados na procura das origens dos Transtornos Obsessivos Compulsivos na infância não são mais considerados eficazes. É importante efetuar um diagnóstico preciso de Transtornos Obsessivos Compulsivos, pois somente um grupo específico de medicamentos, que exercem um efeito específico sobre a atividade da serotonina no cérebro, podem modificar consideravelmente a situação.
Apesar de nem sempre ser possível a cura completa dos Transtornos Obsessivos Compulsivos, esses medicamentos, em conjunto com o desenvolvimento de certas formas de terapia complementar, podem oferecer aos pacientes uma maneira de diminuir notavelmente os sintomas obsessivos e compulsivos que são muito debilitantes e que podem perturbar consideravelmente a vida do paciente.







Freud e o Homem dos Ratos -TOC - perguntas e respostas - parte 7

PERGUNTAS E RESPOSTAS


Pergunta: Por que somente recentemente reconheceu-se a característica progressiva dos Transtornos Obsessivos Compulsivos?
Resposta: Os pacientes que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos são em geral discretos quanto aos seus sintomas obsessivos e compulsivos; eles preferem ocultá-los a procurar ajuda.
Os sintomas obsessivos compulsivos são habitualmente egodistônicos, ou seja, o paciente reconhece que eles não têm sentido ou que são exagerados. Portanto, eles sentem vergonha. Em outros pacientes, envolvendo um grande número de casos, as obsessões têm um caráter de dano infligido a outros; ela é, portanto, mais difícil de ser revelada. 

Pergunta: Nos pacientes que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos qual é o risco de sofrerem outros tipos de transtornos?
Resposta: Aproximadamente 70 a 80% dos pacientes afetados por Transtornos Obsessivos Compulsivos também sofrem de depressão. Vários deles poderiam ser tratados de depressão ou de outros fenômenos secundários aos Transtornos Obsessivos Compulsivos, tais como uma irritação da pele, sem revelarem a origem dos seus problemas, salvo se lhe fossem feitas perguntas específicas. É, portanto, muito útil discutir os pensamentos obsessivos ou necessidades compulsivas com um médico. 

Pergunta: Todos os pacientes que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos apre-sentam simultaneamente sintomas obsessivos e compulsivos?
Resposta: A maioria dos pacientes apresentam simultaneamente sintomas obsessivos e compulsivos. Alguns apresentam somente obsessões ou compulsões. 

Pergunta: As pessoas que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos são conscientes do caráter anormal de seu comportamento?
Resposta: Em geral, as pessoas que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos são efetivamente conscientes da irracionalidade de seu comportamento. Essa consciência in-duz a um sentimento de medo que os outros as tomem como "loucas". Elas guardam em segredo seus sintomas, o que explica sua reticência em procurar ajuda médica.
Pergunta: Qual é a diferença entre um comportamento compulsivo e o perfeccionismo?
Resposta: Não se pode confundir os Transtornos Obsessivos Compulsivos e a "precisão" positiva, que é a marca dos níveis de exigência no trabalho ou nas horas de lazer. O "perfeccionista" acha que cada um deveria cumprir seus níveis de exigência, enquanto que a pessoa portadora de Transtornos Obsessivos Compulsivos se dá conta que suas obsessões e/ou suas compulsões não tem sentido, que elas são exageradas; esta pessoa sonha em ver-se livre desses transtornos. A necessidade de perfeccionismo é diferente das ob-sessões e dos rituais que acompanham os Transtornos Obsessivos Compulsivos, uma vez que estes últimos destroem a vida da pessoa. 

Pergunta: São conhecidas todas as causas dos Transtornos Obsessivos Compulsivos?
Resposta: Tempos atrás se acreditava que os Transtornos Obsessivos Compulsivos envolviam uma afecção de ordem psicológica ligada a atitudes enraizadas na infância, por exemplo a importância excessiva dada ao asseio. Entretanto, foi relatado recentemente que os pacientes portadores de Transtornos Obsessivos Compulsivos reagem bem a um determinado grupo de medicamentos, demonstrando que essa doença é atribuída a uma causa neurobiológica. Acredita-se que o fator-chave desta doença seria neurotransmissor chamado "serotonina", isto é, uma substância naturalmente presente no cérebro e que atua na transmissão dos impulsos nervosos. Estudos recentes que utilizaram uma técnica que avalia como funciona o cérebro, demonstraram que os pacientes que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos apresentam esquemas de atividade cerebral diferentes dos observados em indivíduos normais ou pessoas que sofrem de outros tipos de transtornos psiquiátricos. Trata-se de mais uma evidência em favor de uma causa biológica dos Transtornos Obsessivos Compulsivos. 

Pergunta: A depressão pode provocar a manifestação de Transtornos Obsessivos Compulsivos? 
Resposta: Dada a incidência elevada de depressão em pessoas portadoras de Transtornos Obsessivos Compulsivos, há muito se pensava que os Transtornos Obsessivos Compulsivos se desenvolviam tendo como causa a depressão. Agora, se acredita que, na grande maioria dos casos, a depressão é que se segue aos Transtornos Obsessivos Compulsivos e é considerada uma complicação da doença e esses dois tipos de transtornos devem-se a diferentes causas neurobiológicas. 

Pergunta: Os Transtornos Obsessivos Compulsivos são uma doença familiar?
Resposta: O método de avaliação não revelou tratar-se ou não de uma doença hereditária, embora haja indícios de que ela pode ser produzida em gerações sucessivas de uma mesma família. 

Pergunta: Os Transtornos Obsessivos Compulsivos podem ser facilmente diagnosticados?
Resposta: Sim. De 10 anos para cá, passamos a conhecer cada vez mais a natureza e o reconhecimento dos Transtornos Obsessivos Compulsivos e, portanto, esse tipo de trans-torno tornou-se mais fácil de diagnosticar. Entretanto, ele não poderá ser reconhecido sem que o paciente discuta com o seu médico, de maneira completa e aberta, os seus pensamentos obsessivos e seus comportamentos compulsivos. 

Pergunta: Os Transtornos Obsessivos Compulsivos podem desaparecer sem tratamento? Resposta: Para a maioria dos pacientes, considera-se que os Transtornos Obsessivos Compulsivos sejam um problema crônico. A afecção habitualmente já existe há vários anos, ainda que os sintomas obsessivos compulsivos variem em gravidade. Entretanto, uma pequena proporção de pacientes não têm mais que um único episódio. Os medicamentos associados a uma terapia comportamental oferecem as melhores perspectivas para esses pacientes.
Pergunta: Em que consiste a terapia comportamental para o combate aos Transtornos Obsessivos Compulsivos?
Resposta: A terapia comportamental baseia-se em programa estruturado, adaptado às necessidades individuais do paciente para combater seus rituais. A terapia comportamental imprime maior ênfase sobre os sintomas do que sobre as causas supostas. Seu alvo é mudar o comportamento do paciente no sentido de incentivá-lo a enfrentar seus temores (exposição) e depois a esforçar-se em se livrar de seus rituais compulsivos (prevenção da resposta). Na maioria dos casos, uma medicação anti-obsessiva pode reduzir os sintomas a um nível que permita agregar em seguida a terapia comportamental ao tratamento. 

Pergunta: Qual é a duração normal do tratamento?
Resposta: Serão necessários cerca de dois meses para que se possa evidenciar um efeito benéfico nos pacientes tratados com medicamentos. É preciso ainda um tempo mais prolongado para que se possa observar os efeitos máximos. Ainda que não se tenha certeza de qual deverá ser a duração do tratamento, o caráter crônico dos Transtornos Obsessivos Compulsivos significa que, habitualmente, não se deve tentar diminuir a posologia ou inter-romper o tratamento antes de decorrido pelo menos um ano. 

Pergunta: O que é possível fazer para tratar os pacientes que sofrem episódios ocasionais de Transtornos Obsessivos Compulsivos e de depressão?
Resposta: Felizmente, todos os medicamentos eficazes contra os Transtornos Obsessivos Compulsivos são igualmente eficazes contra a depressão (em contra-partida, nem todos os antidepressivos são eficazes contra os Transtornos Obsessivos Compulsivos). Portanto, quando as duas afecções são concomitantes, os medicamentos anti obsessivos cuidarão de ambas.
Pergunta: Se você sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos, o que pode fazer? 
Resposta: PRIMEIRO, esteja ciente de que você não é o(a) único(a)! Uma pessoa em cada 50 sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos, e está mais que provado que as obsessões e as compulsões dessa pessoa são idênticas às suas. SEGUNDO, saiba que você não está a caminho de perder o juízo ou não poder sair mais dessa, que não deve ter nenhuma vergonha por sofrer de Transtornos Obsessivos Compulsivos. Conscientize-se da natureza real de suas obsessões e de suas compulsões; elas são resultantes de um distúrbio bioquímico sobre o qual você não tem nenhuma responsabilidade. TERCEIRO, discuta seus sintomas, de maneira completa e aberta, com o seu médico, que os conhece muito bem, que os leva a sério e que pode tratá-los de maneira eficaz. QUARTO, siga rigorosamente o seu tratamento, mesmo que efeitos secundários às vezes desestimulantes venham a ocorrer no início. Várias semanas podem se passar até que o tratamento comece a demonstrar sua eficácia. QUINTO, procure ser ativo, passe algum tempo fora de casa. Se você enfrentar seus temores e tentar não ceder aos seus comportamentos compulsivos, isso o ajudará a diminuir os efeitos dos Transtornos Obsessivos Compulsivos sobre sua vida. 

Pergunta: O que você pode fazer para ajudar uma pessoa que sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos?
Resposta: PRIMEIRO, não culpe essa pessoa. Os Transtornos Obsessivos Compulsivos não têm nada a ver com uma falta de força de vontade, e a pessoa não tem a intenção de perturbar a sua vida. SEGUNDO, incentive ativamente a pessoa sofredora de Transtornos Obsessivos Compulsivos a procurar a ajuda de um profissional, ofereça apoio aos seus esforços em querer tratar a afecção. TERCEIRO, domine a reação de implicância com as obsessões e as compulsões da pessoa, pois isso nada mais fará que reforçar esses com-portamentos. Existem outras maneiras de mostrar que você está preocupado(a) e toca-do(a) pelo problema sofrido por essa pessoa. QUARTO, tente reduzir a influência dos
comportamentos compulsivos adotando relações normais com a pessoa que sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos. QUINTO, elogie todos os sucessos, ainda que limitados, obtidos por essa pessoa em sua luta contra os sintomas.