sábado, 30 de abril de 2011

ATRIBUTOS DO PSICANALISTA


Uma reflexão

Sonia Pineda Vicente

“Cada analista deve ter em mente, de modo claro, quais são as condições mínimas necessárias (cmn), para si mesmo, nas quais ele e o seu paciente podem fazer o trabalho”
                                                                                                          (conversando com BION 1992, p.75)

“A prática da psicanálise é muito difícil. A teoria é simples. Não basta saber todas as teorias. Um bom analista está sempre lidando com uam situação desconhecida, imprevisível e perigosa.
                                                                                                                                         (Bion, 1987, p.5)

EQUIVALÊNCIA: PAIS E FILHOS = ANALISTA E ANALISANDO

(...) “A única coisa que parece ser básica, não é tanto aquilo que fazemos, mas aquilo que vivemos, aquilo que somos. É por isso que é tão importante que os pais sejam capazes daquilo que eu chamo de amor ardente. Aí a criança tem uma chance de aprender algo a partir do modo que os pais se comportam. Nada em sua educação escolar, nem em qualquer outro lugar, pode lhes ensinar isto.”
                                                                                                                                      (Bion, 1992, p. 46)


O QUE DE FATO É NECESSÁRIO?

  1. Boa preparação teórica ou técnica do

Analista


  1. Atitude interna do psicanalista

  1. Composta de uma série de atributos

  1. Um jeito autêntico dele ser




ATRIBUTOS:

  1. IDENTIDADE ANALÍTICA = manter-se o mesmo.
Servir como um espelho ao analisando, onde ele possa mirar-se de corpo inteiro e reconhecer as distorções especulares.

  1. AMOR A VERDADE = capacidade de ter fé na existência de uma realidade e verdade últimas.

  1. CAPACIDADE DE SER CONTINENTE

  1. PREMONIÇÃO = capacidade de antecipação = pressentimento.

  1. PACIÊNCIA = suportar a dor da espera.

  1. CAPACIDADE NEGATIVA = permanecer em incertezas, mistérios, dúvidas sem desejo, sem memória e sem compreensão.

  1. INTUIÇÃO = capacidade de se olhar para dentro, ou de dentro ( não sensorial/transcendental ).

Kant: “ a intuição sem conceito é cega; conceito sem intuição é vazio”
Bion: “o analista deve saber escutar não só as palavras e os sons, mas também a música”
  1. EMPATIA = em (dentro) pathos (sofrimento) = Analista se coloca no lugar do Analisando.

  1. COMUNICAÇÃO = tornar comum, com – um, no sentido de uma unidade de intercâmbio entre o emissor e o receptor.

10.DISCRIMINAÇÃO = fazer separações: o que é do analista e o que é do analisando, entre o que é
patológico e o que é sadio em ambos...

11.ÉTICA = ETHOS = território natural – não invadir o espaço autêntico do analisando.

12.RESPEITO = aceitar o analisando como ele de fato é , ou pode vir a ser, e não como o analista gostaria que fosse. RE – ESPECTORE ( OLHAR DE NOVO)

13.CORAGEM = cor: do coração: atitude interna do psicanalista.

     Psicanálise “é uma palavra em busca de um significado; um pensamento esperando por um pensador; um   conceito aguardando por um conteúdo”  

                                                                                                                                 (BION, 1992 , p. 145)


Bion sempre estimulou os seus pacientes, discípulos e analisandos, a darem livre curso á imaginação, isto é, como ele costumava dizer: deixem a imagem – em – ação
(GRADIVA nº 43, p.10)



O maior empenho de toda a obra de Bion consistiu exatamente em buscar e apontar os possíveis caminhos para não nos afastarmos do estado de fé, verdade e esperança.”
(ZIMERMAN, 1995, p. 284)



Freud e o Homem dos Ratos - parte 1

FREUD E O HOMEM DOS RATOS



Eraldo S. L. Teixeira
Orpheu Cairolli
Sonia Pineda Vicente
Telma A. L. Carlos
(1*)

Homem dos Ratos é o nome pelo qual ficou conhecido um texto de Freud(19) dedicado à neurose obsessiva. O título original é: Observações (Bemerkungen) sobre um caso de neurose obsessiva (Zwangneurose). Trata-se, por conseguinte, de uma espécie nome de guerra (e é verdade que há uma guerra deste sujeito consigo mesmo!) visto que o verdadeiro nome do paciente de Freud, tal como veio a saber-se mais tarde, era Ernst Lanzer. No entanto, ao relermos este texto paradigmático, somos levados a crer – guiados pela mão de Freud, mas também, e sobretudo, pelo discurso do próprio paciente - , que Homem dos Ratos é, afinal, o verdadeiro nome próprio deste sujeito.
Síntese
Freud tratou um jovem cujo trabalho foi publicado como "Homem dos Ratos" (1909)(19) (Vol. X da Coleção das Obras Completas de Freud da Editora Imago). Freud procurou formular, a partir do estudo do caso, uma explicação sobre a neuro-se obsessivo-compulsiva à luz da teoria psicossexual do desenvolvimento. Para tan-to, realizou uma descrição rica e precisa de rituais e obsessões que seu paciente apresentava, buscando interpretá-los à luz de sua teoria. Tal concepção prevaleceu até pouco tempo atrás, quando novos fatos vieram modificar essas concepções.
O paciente, um jovem de educação universitária, apresentou-se a Freud com a queixa de obsessões desde sua infância, mas com uma maior intensidade nos úl-timos 4 anos de sua vida. Sofria de TEMORES de que algo acontecesse a duas pessoas de quem mais gostava - seu pai e uma jovem a quem admirava.

Além disso, tinha consciência de IMPULSOS COMPULSIVOS - tais como, por exemplo, de cortar sua garganta com uma navalha -, produzindo posteriormente PROIBIÇÕES, muitas vezes em conexão com coisas triviais, como no dia em que a jovem de quem gostava ia partir e ele bateu com o pé numa pedra da estrada em que caminhava, e foi obrigado a afastá-la do caminho, pondo-a a beira da estrada, pois lhe veio à idéia de que o carro dela iria passar e poderia acidentar-se nessa pe-dra. Contudo, minutos depois pensou que era um absurdo, e foi obrigado a voltar e recolocar a pedra à sua posição original.
A experiência que precipitou a primeira consulta do paciente com Freud ocor-reu quando estava em manobras em uma unidade militar. Um oficial descreveu uma forma de tortura na qual o prisioneiro ficava sentado nu, amarrado sobre um recipi-ente contendo ratos, que buscavam escavar seu ânus em busca de uma saída. Tal pensamento passou a invadir sua mente sem que fosse capaz de evitá-lo, causan-do-lhe grande aflição. Achava que isso poderia acontecer com a jovem de quem gostava e com o pai, já falecido há nove anos. Como forma de evitar essa obsessão empregava uma fórmula particular, dizendo a si mesmo: "Mas", acompanhado por um gesto de repúdio, e depois: "O que é que você está pensando?"
O jovem passou anos combatendo essas e outras idéias, conforme relatou, perdendo, deste modo, muito tempo de sua vida. Vários tratamentos haviam sido tentados, com nenhum efeito positivo.
A análise de Freud concentrou-se na ambivalência do paciente para com seu pai e a jovem a quem cortejava, originada em sua sexualidade precoce e intensa e sentimentos antigos de raiva contra seu pai - que haviam sido severamente reprimi-dos. O símbolo do rato levou Freud e o paciente a uma série de associações que incluíam erotismo anal, lembranças de excitações anais quando o paciente em cri-ança eliminava lombrigas (que Freud interpretava como simbolizando um pênis), e o fato de ter sido espancado pelo pai aos 4 anos de idade por ter mordido uma pes-soa. Associou ainda com problemas antigos do pai do paciente com o jogo (em ale-mão, um jogador é uma spielratte - ou rato-do-jogo), a idéia infantil do parto anal e a própria experiência real de haver tido verminose quando criança. Após um ano de análise, o paciente curou-se de seus sintomas e, nas palavras de Freud, "o delírio dos ratos desapareceu".
Segundo Freud, a história dos ratos é um ponto nodal (ein Knotenpunkt) onde vêm entroncar os diversos fios da meada. Mas como situar esta coisa: como signifi-cante? Como objecto? Ou como um misto de significante e de objecto? Não faltam, no texto de Freud, elementos que apoiam uma ou outra das diversas posições. Ve-jamos: Em primeiro lugar, é evidente que se trata de um significante, quer dizer, de um termo que serve de base a uma ou várias equações simbólicas do tipo: ra-to=pai=pênis=coito=criança=florins, etc. Tudo isto assente no mero jogo significante (e mesmo literal) da palavra rato. Vejamos apenas alguns exemplos, tais como eles aparecem na fala do paciente: Raten (prestações, pagamentos), Ratten (ratos), Spielratte (rato-de-jogo), Heiraten (matrimónio) e por aí fora. No capítulo final – O complexo paterno e a solução da ideia dos ratos – bem como nas Notas manuscritas sobre o relato original do caso, este trabalho de Freud com base no significante – guiado pela própria fala do sujeito – está bem patente. Deste ponto de vista, a análi-se tenderia no sentido de uma progressiva significantização da experiência, de forma a restituir ao sujeito o sentido (perdido) da sua história. E, em última análise, esse sentido poderia formular-se numa única frase. E é interessantíssimo ver como Freud acredita, no fim de contas, ter chegado a essa frase. Vejam-se as páginas 1471-72 (op. cit): “devolverei o dinheiro ao tenente A. quando o meu pai e a minha noiva tive-rem filhos”. Ou: “É tão certo devolver o dinheiro como o meu pai e a minha noiva po-derem ter filhos”. Quer dizer, num caso ou noutro, é impossível. Um desejo impossí-vel de realizar. Ou realizando-se – isto é, auferindo uma satisfação – sob a forma desse impossível.

Comentários 
De uma forma muito rica e detalhada Freud descreveu os sintomas do trans-torno obsessivo-compulsivo (até bem pouco: neurose obsessivo-compulsiva): ob-sessões e compulsões, rituais de anulação, que procurou interpretar à luz de seu modelo psicossexual do desenvolvimento. Particularmente são ricas suas descrições sobre a forma de pensar do paciente obsessivo-compulsivo modernamente retoma-
das e valorizadas pelas teorias cognitivas do TOC: a importância exagerada do pen-samento, a dificuldade de conviver com a incerteza, a necessidade do controle, o perfeccionismo, o responsabilidade exagerada. Freud destacou ainda o isolamento dos afetos em relação às idéias, a ambivalência, a anulação, o Superego severo, como fenômenos associados ao TOC, e em função dos sintomas do seu paciente supervalorizou os sintomas relacionados com ânus, fezes, defecação e sadismo, que no seu entender apoiavam sua teoria.
O Homem dos Ratos é um exemplo de um lado da genial capacidade de Freud para captar e descrever fenômenos clínicos, e ao mesmo tempo de vieses nos quais incorria em função de suas próprias teorias. De qualquer forma sua descrição detalhada e sua interpretação elegante à luz de suas próprias idéias, prevaleceram por quase um século como a teoria sobre a origem do transtorno obsessivo-compulsivo, embora fossem de pouca utilidade no seu tratamento.
Atualmente, o transtorno obsessivo-compulsivo é visto como um transtorno neuropsiquiátrico, para cuja origem concorrem fatores de ordem biológica, como vul-nerabilidade genética, disfunção neuroquímica cerebral, o ambiente familiar em que foi educado. Tem sido também muito valorizada a relação funcional entre obsessões e compulsões, ou seja, o fato de o paciente descobrir (aprender) que os rituais alivi-am a ansiedade associada às obsessões e passa por este motivo a repeti-los. Têm sido também destacadas determinadas crenças errôneas que auxiliam na manuten-ção da doença: como a avaliação irreal do risco, a importância exagerada que estes pacientes dão aos seus pensamentos, o perfeccionismo, e necessidade de ter con-trole e certeza entre outros. Seu tratamento, em função desses novos fatos, passou a ser a farmacoterapia associada à terapia cognitivo-comportamental, e não mais a psicanálise.
Luiz Miller de Paiva32 nos relata que a neurose obsessiva ou transtorno ob-sessivo compulsivo de ajustamento (F.42 e 43 do Cid 10) nos mostra um cerimonial complexo, reconhecido pelo próprio paciente, podendo chegar a um grau avançado como sói ocorrer nos episódios obsessivos graves com sintomas psicóticos (F.32.3), na síndrome de Asperger (F.84.5), e na esquizofrenia simples (F.21). Todavia, nos transtornos da personalidade esquizóide, os sintomas apresentam-se mais amenos
embora sejam originários na infância, produzidos pela predisposição genética ou insegurança ontológica (Laing,1963 in::32 ). A nosso ver, o mais grave problema do obsessivo está no seu comportamento que parece, a primeira vista, normal; todavia, em sentido mais profundo, trata de uma alteração estrutural do sistema nervoso, principalmente no cérebro reptiliano, produzindo sintomas graves de conduta, haja vista a atitude revolucionária levando à guerra. A explicação deste fenômeno obses-sivo parece ser devida à herança do ser humano de três tipos de cérebro: reptiliano, paleomamífero e neomamífero, que apesar de diferenças estrutural e metabólica, agem em conjunto (LEAKEY,1979 in: 32 ).
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1* Membros da AEPSP - Associação de Estudos Psicanalíticos de São Paulo

Freud e o Homem dos Ratos - TOC - parte 2

Obsessão como defesa reativa:

O sintoma obsessivo funciona como se o perigo estivesse constantemente presente exigindo do indivíduo uma sistemática defesa contra ele.
A anulação de certa forma está ligada à formação reativa. Isto ocorre por exemplo, nos atos compulsivos, onde o segundo ato é a inversão do primeiro. Na repetição com intenção diferente. Essas repetições teriam o objetivo de anular o sentido inconsciente real do ato, dando-lhe um significado oposto.
A aparente falta de afeto do obsessivo baseia-se num isolamento. No obsessivo o amor não extingue o ódio, mas apenas o mantém no inconsciente onde a consciência não o percebe.
Esta singular constelação da vida amorosa parece ter sua condição em uma dissociação muito primitiva, acontecida no período infantil dos dois elementos antitéticos, com repressão de um deles, principalmente do ódio.
A obsessão é sempre desagradável - não existem obsessões agradáveis -, sempre suja e, entretanto, o prazer que o sujeito tem a considerar e reconsiderar o tema obsessivo que paralisa toda decisão e toda atividade, é muito claro. A obsessão vincula no ir e vir do pensamento como o objeto anal no ventre.
No obsessivo, parece estabelecer uma ruptura definitiva entre o ser (identidade) e o ter (objeto), tanto ao nível de mundo interno quanto em relação ao mundo externo. Para ser assim considerado deverá ser mantido um hiato permanente entre os dois, como sói ocorrer na derriça conjugal. Ser mumificado para eternizar os defeitos e mostrá-los a todos. O terror à decomposição, não propriamente à morte ou ao cadáver, revela a necessidade de se fixar, mesmo à custa de se cadaverizar. Não suporta os estágios intermediários – e a vida é exatamente esse estágio entre duas “certezas” (nascimento e morte). Precisa viver sob o pensamento da morte para evitar ser surpreendido. O pensamento desenvolve-se satisfatoriamente durante o contato íntimo com a mãe na lactação; se houver por parte maternal, amor e reverie formar-se-ão bons pensamentos; caso contrário, se a mãe não for amorosa, afetuosa e não ter reverie suficiente, o bebê poderá ter pensamentos agressivos dos mais variados tipos chegando até prejudicar no futuro, a função mental. Ao se formarem, os pensamentos constituem também as fantasias sexuais cujos aparecimentos podem-se dar posteriormente, seja na infância, adolescência ou idade adulta, revelando persistência da certas impressões existentes no primitivismo cerebral. A perver-são se origina, portanto, durante a lactação. Se o bebê não receber reverie e nascer com insuficiência ontológica, com má estrutura do cérebro reptíliano, poderá causar uma defesa precoce da formação do pensamento e, no adulto, a perversão sexual (sexualidade destrutiva, fetichismo ou transexualismo) e principalmente uma agressividade do tipo obsessivo contra a sociedade.
São freqüentes os conflitos sexuais na personalidade obsessiva e dos mais variados tipos de perversões. Quanto maior a rejeição da mãe nos primeiros períodos de molde, maior destrutividade no ato genital quando adulto. Mãe hostil levaria, com mais freqüência, ao coito sádico e orgasmo precoce, orgasmo somente clitorídeo, fetichismo, estupro, pedofilia etc., Murphy et al.(1987in: 32) verificaram que além da testosterona, o aumento de vasopressina e oxitocina durante o orgasmo tanto em animais como no homem gera maior agressividade ao ato. Pasmem, só este fenômeno tão agressivo transforma o ato de amor em “sexo objeto” tão prejudicado a nossa civilização.

Repetição Compulsiva  

A repetição compulsiva é ansiedade, associada a uma dependência do objeto primário, que reativa a mais arcaica situação de inveja. O ódio e a ambivalência resultante desta situação - que, inevitavelmente, se converte em culpa e depressão - torna-se intolerável. A repetição parece sobrepor o princípio do prazer. Na doença do neutro, o paciente necessita repetir a sensação de ser abandonado novamente, usando toda a sua agressão contra o analista: a necessidade de ser abandonado mais uma vez (Miller de Paiva, 1994)(26).

Freud e o Homem dos Ratos - TOC - parte 3

Mecanismo etiopatogênico das obsessões e tratamento:

Qualquer sentimento pode ter manifestação bioquímica, podendo não ser perceptível pelos métodos atuais de pesquisa. Anos atrás somente a emoção era considerada como produtora de manifestações bioquímicas, das quais resultavam a taquicardia, dispnéia, sudorese, etc.; todavia, estes sentimentos, acarretando alterações enzimáticas, hormonais, quando constantes, podem produzir alterações patológicas, como sói ocorrer na aterosclerose, hipertensão, câncer (certos tipos), doenças auto-imunes, etc. Aliás, neurônios cerebrais através da tomografia computadorizada “high-speed” digital eletrônico mostravam como os alucinógenos podem causar alterações estruturais o que vem confirmar a fragilidade do ego. Parece que certos obsessivos “esclerosam” as sinapses, daí a sua “poda” prejudica a saúde (ela deve ser corrigida quanto antes). Por este mecanismo psicopatológico é que podemos explicar a dificuldade de melhoras dos sintomas obsessivos e principalmente diante dos cerimoniais repetitivos na política, na religião e na ciência.
De maneira sumária, o mecanismo psicopatológico na ansiedade seria: os conflitos conscientes e inconscientes atuariam através do cérebro visceral, principalmente pelo cérebro reptiliano, amídala do hipocampo, núcleos do tronco cerebral e do prosencéfalo (que liberam monaminas e peptídeos) através dos circuitos de Papez e sistema retículo-endotelial, que acabam alterando o modo de processamento de inúmeros outros circuitos cerebrais desencadeando determinados comporta-mentos (Damásio,2000 in:32) por estimular hormônios e sintomas do simpático e do parassimpático, o primeiro para a “luta ou fuga” por intermédio das norepinefrina e epinefrina, e o segundo para as defesas regressivas e de conservação, principal-mente por meio dos neuropeptideos Achados recentes (Miguel,1996 in:32) mostram aumento da oxitocina no T.O .C. e ausência do aumento da arginina-vasopressina. Por sua vez, todas estas substâncias voltariam ao cérebro, principalmente ao sistema límbico, às zonas pré-frontais e TOP, produzindo parte dos sintomas ansiosos e
obsessivos. É a perda de segurança e de controle, acarretando “o medo de ter me-do”, levando-o a evitar entrar em contato com o objeto perigoso.
O neurótico obsessivo, principalmente quando portador de pânico, apresenta um ego esburacado por ter faltado como já vimos, a matriz de confiança materna acarretando um frágil centro de sustentação.
Por deficiência de reverie da mãe não há sustentação básica interna, mas o próprio centro de sustentação é também, deficiente, pois ele se ataca fragmentando seu self.
Grotstein (1991in:32) fala em cimento de sustentação. A personalidade do obsessivo é frágil e não suporta as emoções saturadas de violência por sentirem como sinais de catástrofe, motivo pelo qual os obsessivos abandonam com freqüência a terapia.
A confirmação desamparo (realidade catastrófica) à impossibilidade de lidar com o processo de viver; quanto maior for o contato emocional, maior será o esvaziamento, pois a dor mental sentida seria como fosse explodi-lo ou implodi-lo, sendo maior o seu esvaziamento, é a poda das sinapses (pruning). A sua parca resistência é por ter tido a vida inteira insuficiência ontológica o que acaba por enfraquecer o seu cérebro reptilíneo. Por vezes, como defesa, necessita a paralisação da mente e até do corpo - é a ruptura com a vida, a morte em vida ou o morto-vivo ou doença do neutro.
O terapeuta deve fornecer muito Eros terapêutico, afeto, carinho, reverie, principalmente segurança afetiva - aquilo que os seus pais não lhe deram, porém utilizando-se sempre da educação baseada em “mão de ferro em luva de pelica” aonde não deve haver agressividade e, evidentemente, associando-se às drogas psicoterápicas (tricíclicas, benzodiazepinas, fuvoxamina, sertralina e atualmente a olanzapina, a risperidona e aripiprazol). Só assim enfrentaremos os conflitos profundos do paciente: a sua insatisfação pela vida, sua indiferença, doença do neutro, a autodestruição, neurose de sucesso, o caos, o sem sentido, a aspiração do nada, o niilismo. Outrossim, evitaríamos a pulsão destruidora, tal como no caso do escorpião que pediu auxilio ao sapo para atravessar o rio: “mas você prometeu não me picar...”
“Eu não posso fazer nada, é o meu instinto”! O mesmo se passa com o povo impe-rialista e conquistador...
Precisamos combater o instinto de morte. Tudo isto pode ser tratado pelo bom senso humano também, além da técnica psicanalítica evitando nesta a transferência misconceptiva que é de importância capital, na qual se acentua o aparecimento do “holding winnicottiniano”, o aumento da sustentação grotsteiniano e do “portance” de Quinodoz (1993 in:32), que é a capacidade de suportar e elaborar a angústia de sepa-ração, isto é, perdoar, realmente, os pais pelas fantasias inconscientes que existi-ram e tornaram o “hominidae” infeliz. Por outro lado, encontrar e enfrentar a matriz mais profunda de tal necessidade basilar da espécie humana como suporta ao me-do, ao temer de alguma coisa mais primitiva, anterior ao que foi recalcado, segundo os conceitos de Ferro (1998 in:32) e de Bion (1979in:32, )2,3 quanto a existência na psi-que de “ medos sub-talâmicos”.
Pelos conhecimentos antropológicos, farmacológicos (aplicação eficaz das drogas) e grupanálise, precisamos também da ciência sociológica. É evidente a im-portância do estado de saúde do cérebro reptiliano e ainda mais a repetição compul-siva no cão quando se joga algo e ele traz de volta, inúmeras vezes; ele, cão; deixa-rá de trazer se dermos a fluoxetina pois tonificará seu cérebro reptiliano. Poder-se-ia pensar em prescrever os fármacos para toda a humanidade para assim evitarmos os conflitos, guerras etc, pois fortaleceríamos os neurônios e suas sinapses! Esta atitude seria ilusória; todavia, se pudéssemos educar os pais para que os filhos tivessem bons pensamentos, talvez poderíamos evitar o fim da nossa civilização, principal-mente se surgisse concomitantemente, um novo líder espiritual, com grande poder carismático.
Outrossim, se evitássemos as obsessões existentes na humanidade, decorrentes de excesso de culpa por simples fantasias inconscientes como sói ocorrer nas atitudes dos religiosos sejam católicos, evangélicos ou muçulmanos (identificando com Jesus para se purificarem, o que é útil, mas que exageram as verdades da Bíblia utilizando suas interpretações metafóricas); os judeus religiosos seguindo, por fatores inconscientes, o ensinamento de defender a Terra Santa através do mito de Canaã (pois poderiam construir o Estado de Israel no Quênia ou no Amazonas e
deixar a capital na Palestina), mas persistem masoquisticamente a voltar ao espaço de terra dito pelos seus ancestrais, finalmente, os pensamentos obsessivos evitados não haveria as mortes de pessoas em revoltas, como em Belfast ou no Afeganistão.
Assim teremos o predomínio do Amor e da Virtude Moral devido ao conheci-mento das verdadeiras causas da Ekypirosis, que são as fantasias inconscientes destrutivas que precisam ser evitadas pela educação(32).

Freud e o Homem dos Ratos - TOC - parte 4

O TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO (TOC)

INTRODUÇÃO

Se no passado os transtornos obsessivos compulsivos (TOC) eram considerados como problemas psiquiátricos raros e impossíveis de tratar, hoje se admite que, na realidade, trata-se de um problema comum, que afeta cerca de 2 a 3% da população geral. Com base nestas cifras, estima-se que mais de 100 milhões de pessoas no mundo inteiro sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos. Nossa perspectiva mudou com a recente descoberta de que esses transtornos reagem a um determinado grupo de medicamentos.
Agora, não somente existe um tratamento para inúmeras pessoas que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos, mas também o fato de atualmente a ênfase não mais ser colocada sobre causas psicológicas mas sim sobre a química cerebral.
Essa é a razão pela qual a origem bioquímica desses transtornos tem sido objeto de várias pesquisas durante os últimos anos. Este guia relata a natureza química desses transtornos freqüentes, e agora curáveis, bem como seu diagnóstico. O tema aborda os novos métodos do tratamento e propõe conselhos mais gerais aos pacientes, aos seus familiares e aos amigos mais próximos.

O QUADRO CLÍNICO DOS TRANSTORNOS OBSESSIVOS COMPULSIVOS

PREVALÊNCIA

A prevalência dos Transtornos Obsessivos Compulsivos na população geral é de 2 a 3%. Acredita-se atualmente que, depois da depressão, os Transtornos Obsessivos Compulsivos constituem o segundo problema mais freqüente na psiquiatria. Estima-se que sua prevalência seja mais elevada que a da esquizofrenia, as síndromes do pânico ou os problemas de anorexia.
A prática clínica revela que 1 em cada 50 pessoas sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos.
Os Transtornos Obsessivos Compulsivos afetam igualmente homens e mulheres de todas as idades e de todos os grupos étnicos. Eles se instalam durante a adolescência ou no início da idade adulta.
No passado, os pacientes esperavam às vezes 7 anos após o início dos sintomas para procurar ajuda médica, e somente se os sintomas fossem graves o sufi-ciente para afetar sua vida social e seu trabalho.
É importante modificar essa evolução que implica em demasiado sofrimento, tornando os pacientes conscientes do diagnóstico de Transtorno Obsessivo Compulsivo e do fato de agora existir um tratamento para esses transtornos.


Freud e o Homem dos Ratos - TOC - parte 5

AS CARACTERÍSTICAS DOS TRANSTORNOS OBSESSIVOS COMPULSIVOS

Os Transtornos Obsessivos Compulsivos são uma doença crônica e debilitante, caracterizada por pensamentos invasores, recorrentes, não desejados (obsessões) que provocam uma ansiedade e/ou comportamentos irracionais, repetitivos e do tipo ritual, que os pacientes se sentem obrigados a adotar (compulsões).


FREQÜÊNCIA DOS SINTOMAS OBSESSIVOS E COMPULSIVOS

OBSESSÕES :

Contaminação 45%
Dúvida patológica 42%
Asco de funções fisiológicas 36%
Necessidade de ordem 31%
Agressividade 28%
Obsessões sexuais 26%
Várias Obsessões 60%


COMPULSÕES:

Verificar 63% 
Limpar 50% 
Calcular 36% 
Fazer perguntas ou confessar-se 31% 
Simetria, precisão 28%
Acumular 18% 
Várias compulsões 48% 

Extraídos de Rasmussen S.A. and Eisen J.L.: J.Clin. Psychiatry 1992; 53 (4, suppl.): 4-10 

Em geral, os Transtornos Obsessivos Compulsivos se instalam ao longo dos anos, em cujo curso os sintomas do paciente podem variar em intensidade. Nos primeiros estágios, o paciente pode querer verificar se é capaz de dominar os sintomas obsessivos e compulsivos. Em certos casos, os rituais compulsivos tomam o tempo de tal forma que passam a dominar o paciente e a interferirem totalmente em sua vida. Em outros casos, o paciente pode estudar uma maneira de adaptar-se aos sintomas obsessivos compulsivos, entretanto, os sintomas continuam a ser por demais incômodos.

Freud e o Homem dos Ratos - Algumas formas de TOC - parte 6

CASOS ILUSTRATIVOS DE ALGUMAS FORMAS DE TOCs

a. O medo da contaminação

Um estudante adolescente está convencido de que se ele tocar maçanetas, trincos e puxadores de portas e de outros objetos, ele será contaminado pela sujeira ou micróbios. Ele passa horas lavando as mãos e a evitar qualquer contato social com as outras pessoas, por acreditar que será contaminado. 

b. A verificação compulsiva 

Uma jovem mamãe está convencida de que ela vai fazer mal ao seu filho. Inca-paz de banir seus sentimentos obsessivos de sua mente, ela verifica de maneira repeti-da os ingredientes relacionados nas embalagens dos alimentos, a fim de se certificar de que eles não vão envenenar a criança.


c. A repetição das ações

Um advogado de meia-idade sente-se obrigado a conferir, depois de arranjar em uma ordem precisa, os objetos sobre uma estante. Ele completa essa série de ações todos os dias antes de partir para o trabalho. Se ele não ficar satisfeito com o cumpri-mento do ritual, ele o recomeça depois de tê-lo iniciado, e chega bastante atrasado ao trabalho.


O TRATAMENTO DOS TOCs 

Durante a última década, mudaram-se as perspectivas para os pacientes porta-dores de Transtornos Obsessivos Compulsivos. Em geral, os métodos psicoanalíticos tradicionais baseados na procura das origens dos Transtornos Obsessivos Compulsivos na infância não são mais considerados eficazes. É importante efetuar um diagnóstico preciso de Transtornos Obsessivos Compulsivos, pois somente um grupo específico de medicamentos, que exercem um efeito específico sobre a atividade da serotonina no cérebro, podem modificar consideravelmente a situação.
Apesar de nem sempre ser possível a cura completa dos Transtornos Obsessivos Compulsivos, esses medicamentos, em conjunto com o desenvolvimento de certas formas de terapia complementar, podem oferecer aos pacientes uma maneira de diminuir notavelmente os sintomas obsessivos e compulsivos que são muito debilitantes e que podem perturbar consideravelmente a vida do paciente.







Freud e o Homem dos Ratos -TOC - perguntas e respostas - parte 7

PERGUNTAS E RESPOSTAS


Pergunta: Por que somente recentemente reconheceu-se a característica progressiva dos Transtornos Obsessivos Compulsivos?
Resposta: Os pacientes que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos são em geral discretos quanto aos seus sintomas obsessivos e compulsivos; eles preferem ocultá-los a procurar ajuda.
Os sintomas obsessivos compulsivos são habitualmente egodistônicos, ou seja, o paciente reconhece que eles não têm sentido ou que são exagerados. Portanto, eles sentem vergonha. Em outros pacientes, envolvendo um grande número de casos, as obsessões têm um caráter de dano infligido a outros; ela é, portanto, mais difícil de ser revelada. 

Pergunta: Nos pacientes que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos qual é o risco de sofrerem outros tipos de transtornos?
Resposta: Aproximadamente 70 a 80% dos pacientes afetados por Transtornos Obsessivos Compulsivos também sofrem de depressão. Vários deles poderiam ser tratados de depressão ou de outros fenômenos secundários aos Transtornos Obsessivos Compulsivos, tais como uma irritação da pele, sem revelarem a origem dos seus problemas, salvo se lhe fossem feitas perguntas específicas. É, portanto, muito útil discutir os pensamentos obsessivos ou necessidades compulsivas com um médico. 

Pergunta: Todos os pacientes que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos apre-sentam simultaneamente sintomas obsessivos e compulsivos?
Resposta: A maioria dos pacientes apresentam simultaneamente sintomas obsessivos e compulsivos. Alguns apresentam somente obsessões ou compulsões. 

Pergunta: As pessoas que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos são conscientes do caráter anormal de seu comportamento?
Resposta: Em geral, as pessoas que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos são efetivamente conscientes da irracionalidade de seu comportamento. Essa consciência in-duz a um sentimento de medo que os outros as tomem como "loucas". Elas guardam em segredo seus sintomas, o que explica sua reticência em procurar ajuda médica.
Pergunta: Qual é a diferença entre um comportamento compulsivo e o perfeccionismo?
Resposta: Não se pode confundir os Transtornos Obsessivos Compulsivos e a "precisão" positiva, que é a marca dos níveis de exigência no trabalho ou nas horas de lazer. O "perfeccionista" acha que cada um deveria cumprir seus níveis de exigência, enquanto que a pessoa portadora de Transtornos Obsessivos Compulsivos se dá conta que suas obsessões e/ou suas compulsões não tem sentido, que elas são exageradas; esta pessoa sonha em ver-se livre desses transtornos. A necessidade de perfeccionismo é diferente das ob-sessões e dos rituais que acompanham os Transtornos Obsessivos Compulsivos, uma vez que estes últimos destroem a vida da pessoa. 

Pergunta: São conhecidas todas as causas dos Transtornos Obsessivos Compulsivos?
Resposta: Tempos atrás se acreditava que os Transtornos Obsessivos Compulsivos envolviam uma afecção de ordem psicológica ligada a atitudes enraizadas na infância, por exemplo a importância excessiva dada ao asseio. Entretanto, foi relatado recentemente que os pacientes portadores de Transtornos Obsessivos Compulsivos reagem bem a um determinado grupo de medicamentos, demonstrando que essa doença é atribuída a uma causa neurobiológica. Acredita-se que o fator-chave desta doença seria neurotransmissor chamado "serotonina", isto é, uma substância naturalmente presente no cérebro e que atua na transmissão dos impulsos nervosos. Estudos recentes que utilizaram uma técnica que avalia como funciona o cérebro, demonstraram que os pacientes que sofrem de Transtornos Obsessivos Compulsivos apresentam esquemas de atividade cerebral diferentes dos observados em indivíduos normais ou pessoas que sofrem de outros tipos de transtornos psiquiátricos. Trata-se de mais uma evidência em favor de uma causa biológica dos Transtornos Obsessivos Compulsivos. 

Pergunta: A depressão pode provocar a manifestação de Transtornos Obsessivos Compulsivos? 
Resposta: Dada a incidência elevada de depressão em pessoas portadoras de Transtornos Obsessivos Compulsivos, há muito se pensava que os Transtornos Obsessivos Compulsivos se desenvolviam tendo como causa a depressão. Agora, se acredita que, na grande maioria dos casos, a depressão é que se segue aos Transtornos Obsessivos Compulsivos e é considerada uma complicação da doença e esses dois tipos de transtornos devem-se a diferentes causas neurobiológicas. 

Pergunta: Os Transtornos Obsessivos Compulsivos são uma doença familiar?
Resposta: O método de avaliação não revelou tratar-se ou não de uma doença hereditária, embora haja indícios de que ela pode ser produzida em gerações sucessivas de uma mesma família. 

Pergunta: Os Transtornos Obsessivos Compulsivos podem ser facilmente diagnosticados?
Resposta: Sim. De 10 anos para cá, passamos a conhecer cada vez mais a natureza e o reconhecimento dos Transtornos Obsessivos Compulsivos e, portanto, esse tipo de trans-torno tornou-se mais fácil de diagnosticar. Entretanto, ele não poderá ser reconhecido sem que o paciente discuta com o seu médico, de maneira completa e aberta, os seus pensamentos obsessivos e seus comportamentos compulsivos. 

Pergunta: Os Transtornos Obsessivos Compulsivos podem desaparecer sem tratamento? Resposta: Para a maioria dos pacientes, considera-se que os Transtornos Obsessivos Compulsivos sejam um problema crônico. A afecção habitualmente já existe há vários anos, ainda que os sintomas obsessivos compulsivos variem em gravidade. Entretanto, uma pequena proporção de pacientes não têm mais que um único episódio. Os medicamentos associados a uma terapia comportamental oferecem as melhores perspectivas para esses pacientes.
Pergunta: Em que consiste a terapia comportamental para o combate aos Transtornos Obsessivos Compulsivos?
Resposta: A terapia comportamental baseia-se em programa estruturado, adaptado às necessidades individuais do paciente para combater seus rituais. A terapia comportamental imprime maior ênfase sobre os sintomas do que sobre as causas supostas. Seu alvo é mudar o comportamento do paciente no sentido de incentivá-lo a enfrentar seus temores (exposição) e depois a esforçar-se em se livrar de seus rituais compulsivos (prevenção da resposta). Na maioria dos casos, uma medicação anti-obsessiva pode reduzir os sintomas a um nível que permita agregar em seguida a terapia comportamental ao tratamento. 

Pergunta: Qual é a duração normal do tratamento?
Resposta: Serão necessários cerca de dois meses para que se possa evidenciar um efeito benéfico nos pacientes tratados com medicamentos. É preciso ainda um tempo mais prolongado para que se possa observar os efeitos máximos. Ainda que não se tenha certeza de qual deverá ser a duração do tratamento, o caráter crônico dos Transtornos Obsessivos Compulsivos significa que, habitualmente, não se deve tentar diminuir a posologia ou inter-romper o tratamento antes de decorrido pelo menos um ano. 

Pergunta: O que é possível fazer para tratar os pacientes que sofrem episódios ocasionais de Transtornos Obsessivos Compulsivos e de depressão?
Resposta: Felizmente, todos os medicamentos eficazes contra os Transtornos Obsessivos Compulsivos são igualmente eficazes contra a depressão (em contra-partida, nem todos os antidepressivos são eficazes contra os Transtornos Obsessivos Compulsivos). Portanto, quando as duas afecções são concomitantes, os medicamentos anti obsessivos cuidarão de ambas.
Pergunta: Se você sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos, o que pode fazer? 
Resposta: PRIMEIRO, esteja ciente de que você não é o(a) único(a)! Uma pessoa em cada 50 sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos, e está mais que provado que as obsessões e as compulsões dessa pessoa são idênticas às suas. SEGUNDO, saiba que você não está a caminho de perder o juízo ou não poder sair mais dessa, que não deve ter nenhuma vergonha por sofrer de Transtornos Obsessivos Compulsivos. Conscientize-se da natureza real de suas obsessões e de suas compulsões; elas são resultantes de um distúrbio bioquímico sobre o qual você não tem nenhuma responsabilidade. TERCEIRO, discuta seus sintomas, de maneira completa e aberta, com o seu médico, que os conhece muito bem, que os leva a sério e que pode tratá-los de maneira eficaz. QUARTO, siga rigorosamente o seu tratamento, mesmo que efeitos secundários às vezes desestimulantes venham a ocorrer no início. Várias semanas podem se passar até que o tratamento comece a demonstrar sua eficácia. QUINTO, procure ser ativo, passe algum tempo fora de casa. Se você enfrentar seus temores e tentar não ceder aos seus comportamentos compulsivos, isso o ajudará a diminuir os efeitos dos Transtornos Obsessivos Compulsivos sobre sua vida. 

Pergunta: O que você pode fazer para ajudar uma pessoa que sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos?
Resposta: PRIMEIRO, não culpe essa pessoa. Os Transtornos Obsessivos Compulsivos não têm nada a ver com uma falta de força de vontade, e a pessoa não tem a intenção de perturbar a sua vida. SEGUNDO, incentive ativamente a pessoa sofredora de Transtornos Obsessivos Compulsivos a procurar a ajuda de um profissional, ofereça apoio aos seus esforços em querer tratar a afecção. TERCEIRO, domine a reação de implicância com as obsessões e as compulsões da pessoa, pois isso nada mais fará que reforçar esses com-portamentos. Existem outras maneiras de mostrar que você está preocupado(a) e toca-do(a) pelo problema sofrido por essa pessoa. QUARTO, tente reduzir a influência dos
comportamentos compulsivos adotando relações normais com a pessoa que sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos. QUINTO, elogie todos os sucessos, ainda que limitados, obtidos por essa pessoa em sua luta contra os sintomas.


Freud e o Homem dos Ratos -TOC - pacientes e familiares - parte 8

CONSELHOS A PACIENTES E A SEUS FAMILIARES


Se você sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos, ou algum membro de sua família ou do seu círculo de amizades também tem esse problema, muita coisa se pode fazer, sobretudo agora que os Transtornos Obsessivos Compulsivos são mais bem reconhecidos e que há disponibilidade de um tratamento eficaz. Uma pessoa que sofre de Transtornos Obsessivos Compulsivos dá-se conta de que se trata de um problema, pois a consciência do caráter anormal de sua conduta é uma característica desse transtorno. Os membros da família e as pessoas próximas também podem estar conscientes do problema e tentar ajudar o paciente a enfrentá-lo, não prestando atenção aos seus ritos ou fazendo de conta que eles não existem mais.
Os Transtornos Obsessivos Compulsivos geralmente são acompanhados por sentimentos de culpa no paciente e de irritação nos familiares.
Como os Transtornos Obsessivos Compulsivos são considerados um transtorno de origem bioquímica, ninguém pode ser acusado; ao contrário, todos os esforços de-verão visar à instauração de um tratamento adequado.


Psicodinâmica do T.O.C.(2*)
Certas idéias fóbicas adquirem caráter obsessivo pela sua simples intensidade; por exemplo, a idéia de ser feio, ou de cheirar mal. São idéias obsessivas na medida em que o paciente sente: “Sou obrigado a sentir como se este ou aquele fosse o caso”; são delírios quando o paciente está convencido da respectiva base real.
Há outros casos em que a obsessão não garante o impedimento daquilo que originalmente se temia, mas obriga a pessoa à justamente fazê-lo. Não se seguem às obsessões deste tipo à necessidade de manter uma fobia, resultam, sim, da luta do impulso original ou da personalidade contra a fobia.
As obsessões desta ordem mais não são do que uma das formas de atitudes contrafóbicas. Ex.: o paciente que tinha interesse obsessivo pela navegação e pelos esportes aquáticos, interesse que resultava do medo infantil de dar a descarga na privada. O medo dos lugares altos pode ser substituído pelo impulso obsessivo de pular para baixo.
As compulsões são obsessões que ainda se sentem como impulsos; são tam-bém derivados; e a respectiva intensidade também exprime a intensidade dos impulsos rejeitados.
Em certos casos, a distorção do impulso instintivo original consiste apenas no fato de que a impulsão “instintiva” se transformou em impulsão “compulsiva”. Não são raros os pensamentos obsessivos de atos incestuosos ou homicidas, que se apresentam despojados do seu caráter de desejos instintivos, despojados também da qualidade emocional adequada. Os indivíduos que tentam exprimir que as idéias horríveis não são sentidas como se fossem desejos costumam dizer que as idéias compulsivas deste tipo “os deixam frios”. Na realidade, porque são tormentosas, as compulsões não os deixam frios em absoluto. As forças defensivas não conseguem fazer que o indivíduo deixe de perceber o que se passa dentro de si, mas conseguem transformar o impulso original em formação compulsiva; a índole desta transformação é o problema do mecanismo da formação de sintomas na neurose obsessiva.
Um paciente que sofria do medo de parecer homossexual tinha o seguinte pensamento obsessivo sempre que conhecia um homem nunca visto antes: “Como este homem podia ter contato homossexual.” Não sentia excitação nem impulso sexual algum, nem percebia em absoluto o fato de a idéia obsessiva exprimir desejo.
Outras obsessões e compulsões não parecem exprimir impulsão instintiva distorcida, mas, conforme já se disse, garantia das forças defensivas. Pode-se dizer que a compulsão é um comando que vem de dentro: a idéia de “ser comandado” enraíza-se, decerto, nas experiências da criança com adultos que costumavam “comandá-la”; em nossa cultura, principalmente, em experiências com o pai. Nas compulsões, é este pai que de dentro comanda; e o “representante interno do pai” chama-se superego. Assim,
pois, na formação dos sintomas compulsivos, o superego desempenha papel diferente daquele que tem na conversão.
A esta altura, parece que afirmamos coisas contraditórias. Primeiro, dissemos que o fenômeno da compulsão era a distorção do fenômeno das impulsões instintivas; agora, parece que ele é derivativo de comandos dados, em outros tempos, pelo pai, a fim de conte exigências instintivas.
Na realidade, o fenômeno da compulsão é condensação de forças tanto instintivas quanto anti instintivas. O quadro clínico manifesto revela mais o primeiro aspecto em alguns casos; noutros, o segundo. O primeiro é que se vê no caso das idéias obsessivas incestuosas ou homicidas. É mais freqüente os sintomas exprimirem, à evidência, comandos distorcidos do superego: o significado defensivo ou penitencial está muito mais enfatizado do que nos sintomas de conversão. O perigo do qual a pessoa tenta proteger-se está mais numa ameaça de dentro do que na índole da perda externa de amor ou da castração. O que mais se teme é uma espécie de perda da auto-estima, ou até um sentimento de “aniquilação”; noutros termos, os sentimentos de culpa têm significação mais decisiva como motivo da defesa patogênica, o que se ajusta ao fato das neuroses obsessivas das crianças começarem mais tarde do que as histerias comumente, no período de latência.
Há casos em que, evidentemente, as compulsões representam comandos do superego. O paciente que tem compulsão a lavar-se, sentindo o comando “Vai lavar-te”, mais não faz do que repetir o que ouviu em criança. Não tem importância que, de fato, os pais lhe hajam dado este comando por amor ao asseio físico; o neurótico obsessivo serve-se dele como defesa contra “pensamentos sujos”, porque, criança sentia que, se os pais lhe soubessem os pensamentos sujos, lhe dariam a ordem de lavar-se.
Diga-se o mesmo das compulsões que não se sentem como o aspecto de comandos positivos, mas, sim, como ameaças. O paciente tem idéias obsessivas do to-cante ao que pode acontecer se ceder às tentações. Exemplo: “Se fizeres isto ou não fizeres aquilo, morrerás”; ou “Se fizeres isto ou não fizeres aquilo, terás tal ou tal castigo”; ou ainda “Se fizeres isto ou não fizeres aquilo, teu pai morrerá”. A análise mostra que os atos a serem contrariados, ou evitados têm significado instintivo censurável, representando, geralmente, as tendências do complexo de Édipo, distorcido, é certo, de
modo muito típico. Os castigos ameaçadores significam o perigo que, noutros tempos, se julgava ligado ao instinto proibido (castração ou perda do amor), ou alguma autopunição que há de afastar (ou substituir) a castração ou a perda do amor. A ameaça da morte do pai, que não se ajusta a esta interpretação, pode explicar-se como percepção repentina do “sinal de angústia”, significando: “O que pretendes fazer não é nada inocente; a verdade é que queres matar teu pai; se cederes à tentação presente, poderá daí resultar o assassinato do teu pai.”
Relativamente menos arcaico é o mecanismo da repressão propriamente dita, que deriva, na certa, da “negação” supramencionada. Consiste no esquecimento in-conscientemente intencional, ou na não –conscientização de impulsos internos ou de fatos externos, os quais, via de regra, representam possíveis tentações ou castigos de exigências instintivas censuráveis, quando não meras alusões a estas. O fato de a consciência excluir propositalmente estes dados visa, é claro, a obstar-lhes os efeitos reais e, mais, o sofrimento da respectiva conscientização; mas o que é reprimido, se bem que o indivíduo não o sinta conscientemente, continua atuante. O ego pode eliminá-lo de todo somente naqueles casos que se designam como sublimação; por vezes, chamados repressão bem sucedida. Na repressão propriamente dita, que se baseia em contra catexias contínuas, o que é reprimido permanece efetivo a partir do inconsciente. Há vezes em que certos fatos são lembrados como tais, mas as conexões respectivas, o significado, o valor emocional, são reprimidos. Surgem conflitos quando ocorrem experiências novas, que se ligam àquilo que for antes reprimido. Há uma tendência, então, da parte do material reprimido a servir-se do fato novo como oportunidade para uma saída, uma descarga; o material reprimido tende a deslocar as suas energias para esta saída, assim transformando o fato novo em “derivado”. A tendência a usar deslocamentos desta ordem, a fim de conseguir descarregar, tem êxito, às vezes. Se analisarmos os exageros neuróticos – a saber, as atitudes em que se sobrevaloriza emocionalmente alguma coisa mais ou menos inócua – veremos que constituem derivados de algo que se reprimiu; conseguimos, então, compreender como produto de deslocamento aquela valoração emocional aparentemente absurda. Há outras ocasiões em que a tentativa que faz o material reprimido para encontrar saída sob a forma de derivado deixa de ter êxito; caso em que se desenvolve a tendência a reprimir todo acontecimento
associativamente ligado ao material desde o início reprimido; enfim, a tendência a reprimir os derivados, tal qual se reprimiu, antes, a exigência original. É o que se chama repressão secundária (Nachdrängein:18). Tem-se impressão de que o material reprimido, é , por assim dizer, uma força magnética que atrai tudo quanto se lhe associe, de modo que isto tudo também se reprime; na realidade, não existe atração associativa do mate-rial conexo para a repressão, mas tentativa de transformá-lo em derivado; daí ocorrendo que as mesmas forças originalmente repressoras também reprimem o material novo.
Certas vezes, o material reprimido reproduz derivativos que são ora descarrega-dos, ora eles próprios reprimidos. Há formações deste tipo, como, por exemplo, os devaneios, que é possível desfrutar de maneira muito emocional até determinado grau, mas que são imediata e totalmente esquecidos quando este grau é ultrapassado. O mesmo se diga do onirismo, situação em que um passo apenas separa os sonhos mui-to emocionais, que obsessivamente se impõe à consciência, dos sonhos que de todo se esquecem.
Assim, pois, as repressões ou se revelam mediante vazios – vale dizer, pelo fato de realmente faltarem certas idéias, sentimentos, que seria de esperar como reações adequadas à realidade – ou se manifestam pelo caráter obsessivo com que o indivíduo se apega a certas idéias, sentimentos e atitudes compensadores, que representam derivados. A primeira situação é a que se vê na repressão secundária; a segunda, nas recordações encobridoras e nas idéias obsessivas.
Muitas conexões existem entre a repressão e a projeção, assim como entre a repressão e a introjeção. Há vezes em que as idéias reprimidas são sentidas, inconscientemente, como objetos que se removeram do ego, caso em que a repressão se aproxima da projeção. Outras vezes, as idéias reprimidas sentem-se como se houvessem sido engolidas, o que constitui semelhança com a introjeção, esta se baseando no fato do que foi engolido deixa de ver-se, mas continua a atuar de dentro . Os sonhos que ocorrem no decurso das análises mostram com freqüência, que o material reprimido é, inconscientemente, considerado alimento engolido, ou até fezes, vômito.
A repressão propriamente dita é o mecanismo principal da histeria, exprimindo atitude na qual a coisa censurável ou importuna é tratada simplesmente como se não existisse. O fato dos impulsos sexuais serem muitas vezes reprimidos, enquanto os impulsos agressivos costumam ser mais objeto de outros mecanismos de defesa, resulta, talvez, da circunstância de que é comum aos educadores manipularem os assuntos sexuais simplesmente omitindo-lhes qualquer menção, ao passo que reconhecem a existência da agressividade, se bem que qualifiquem de ruim. Quanto mais constante-mente os educadores aplicarem impedimentos pelo procedimento que consiste em ignorar as coisas censuráveis ou desagradáveis como se não existissem, mais estarão estimulando a repressão propriamente dita nas crianças. O uso de mecanismos de defesa outros que não a repressão é favorecido pela incongruência da educação moderna, que não sabe ao certo que solicitações instintivas há de autorizar o de conter, daí resultando permissividade inicial e, a seguir, privação repentina, inesperada e, portanto, mais cruel, em muitos casos.
O motivo da repressão é, fora de dúvida, a tendência a reter ou obstar a motilidade daquilo que foi reprimido. Prova é o fato de tornar-se supérflua a repressão quando de outro modo se garante obsessivamente em assassinato porque, aplicando o mecanismo do isolamento, se convencem de que, na realidade, não cometerão o crime.
Visto que aquilo que se reprime continua a existir no inconsciente e desenvolve derivados, nunca a repressão se realiza de uma vez por todas, mas sim, exige gasto permanente de energia que a mantenha, do mesmo passo que o material reprimido está sempre tentando encontrar saída. É um gasto que se observa na clínica; por exemplo, o empobrecimento geral do neurótico, o qual consome a energia que tem na realização das suas repressões, ficando, pois, sem poder dispor para outros fins de energia suficiente. É o que explica alguns tipos de fadiga neurótica. Certos sentimentos de inferioridade tipicamente neuróticos correspondem ao fato de que se percebe este empobrecimento; desenvolvem-se atitudes com que evitar as situações em que pode ocorrer a remobilização do material reprimido (fobias); e atitudes vamos encontrar contrárias àquelas dos impulsos originais e que visam a garantir a permanência da repressão.
As formações reativas evitam repressões secundárias pela promoção de modificação definitiva.”uma vez por todas”, da personalidade. O indivíduo que haja construído formações reativas não desenvolve certos mecanismos de defesa de que se sirva ante a ameaça de perigo instintivo; modificou a estrutura da sua personalidade, como se este perigo estivesse sem cessar presente, de maneira que esteja pronto sempre que
ocorra. Exemplos: o asseio ou o sentimento de ordem do obsessivo compulsivo, que luta, através destes traços caracteriológicos, contra as exigências instintivas de sujeira e desleixo. A rigidez de tal asseio e sentimento de ordem e, bem assim, as irrupções ocasionais de desasseio e desleixo revelam a qualidade reativa destes traços caracteriológicos.
Há mecanismos de defesa que representam formas intermediárias entre a sim-ples repressão e a formação reativa. A mãe histérica que inconscientemente odeia o filho é capaz de desenvolver afeição aparentemente extrema por ele, a fim de assegurar a repressão do seu ódio. É o que se pode chamar, para fins de descrição, formação reativa, sem que aí, no entanto, se implique a modificação da personalidade total no sentido da bondade ou da solidariedade em geral. A bondade permanece limitada a determinado objeto, mesmo assim precisando ser restabelecida sempre que a ocasião o exija. Em contraposição, um neurótico obsessivo que desenvolva formação reativa verdadeira contra o ódio transforma-se, de uma vez por todas, em personalidade rígida e geralmente bondosa.
As formações reativas são capazes de usar impulsos cujos objetivos se opõem aos objetivos do impulso original. Podem aumentar a força dos impulsos desta ordem tanto melhor quanto servem para conter o impulso original; assim é que um conflito entre um impulso instintivo e uma ansiedade ou um sentimento de culpa toma, por vezes, a aparência de conflito entre instintos opostos. Por exemplo, certo indivíduo é capaz de ser reativamente pré-genital para o fim de rejeitar a genitalidade; outro será reativamente (pseudo) genital para rejeitar a pré-genitalidade; ou ainda reativamente heterossexual para rejeitar a homossexualidade, ou vice-versa; reativamente passivo-receptivo para rejeitar a agressividade, ou vice-versa.
Não há linhas nítidas que demarquem as várias formas de mecanismos de defesa. A formação reativa relaciona-se com a repressão e a anulação relaciona-se com a formação reativa. Nesta última, torna-se uma atitude que se contrapõe à atitude original; na anulação, um passo mais se dá. Faz-se alguma coisa positiva que real ou magicamente, é o contrário daquilo que, na realidade ou na imaginação, se fez antes.
A anulação é mecanismo que se pode ver com clareza máxima, em certos sintomas obsessivos, os quais se compõem de duas ações, sendo a segunda inversão
direta da primeira. Assim, por exemplo, certo paciente precisa primeiro abrir o registro do gás e depois fechá-lo outra vez. Todos os sintomas que representam expiação incluem-se nesta categoria, visto que ela, pela sua índole, anula atos anteriores. Paradoxalmente, há vezes em que a anulação não consiste em compulsão a fazer o contrário do que se fez antes, mas em compulsão a repetir o mesmíssimo ato, isso se baseando na seguinte intenção inconsciente, conforme se vê da análise. O primeiro ato foi praticado em conexão com certa atitude instintiva inconsciente; e anulado quando se pode repeti-lo mais uma vez em condições internas outras. O objetivo de repetir (que tem a compulsão) consiste em praticar o mesmíssimo ato, liberto do seu significado inconsciente, ou com o significado inconsciente contrário. Se ocorre que, por força da efetividade contínua do material reprimido, uma parte do impulso original se insinua outra vez na repetição, a qual visa à expiação, uma terceira, quarta, quinta repetição talvez se faça necessária.
Uma paciente que não tinha religião e que, obsessivamente, tinha de rezar pela mãe doente veio a criar a compulsão que consistia em bater de leve na boca depois de rezar; era a anulação do sintoma rejeitador, regresso, do desejo rejeitado de que a mão morresse, significado – “Estou tornando a pôr na boca as palavras da oração”. É o mesmo mecanismo que opera nas crianças, quando julgam ser permissível um falso juramento, se, ao mesmo tempo em que o fazem com a mão direita, fazem disfarçada-mente, o gesto contrário com a esquerda.
Este sintoma representa caso especial do tipo freqüente de sintomas obsessivos que se baseiam na magia da simetria e que costumam significar, inconscientemente, anulação. Se tiver tocado nalguma coisa do lado direito, tem-se de tocar em objeto semelhante do lado esquerdo. Isto significa que o equilíbrio entre instinto e contra-instinto não deve ser transformado; se o foi de um lado da balança, o transtorno tem de ser “anulado” do outro lado. O “número mágico” dos neuróticos obsessivos, faz que prefiram os números pares pelo fato de que não transformam o equilíbrio como os ímpares.
Tausk mostrou que inúmeros sintomas esquizofrênicos revivem experiências do período em que o ego, no seu desdobramento, se descobriu a si mesmo e o seu ambi-ente. O modo passivo pelo qual os paciente experimentam os seus próprios atos, como se de forma alguma atuassem, mas fossem obrigados a realizar certos movimentos ou
a pensar certas idéias, que sentem “introduzidas” na sua mente, relaciona-se com um estádio primitivo do desenvolvimento do ego. O mesmo se aplica à crença na onipotência das palavras ou dos gestos. Outros padrões esquizofrênicos típicos (por exemplo, o negativismo e a obediência automática – ecolalia e ecopraxia), embora não se reconheçam, desde logo, como manifestações do período do aleitamento, são contudo, na certa, arcaicos, e primitivos, e revelam a percepção indistinta dos objetos, fronteiras imprecisas do ego e ambivalência (oral) profunda em relação ao universo dos objetos. A obediência automática corresponde à fascinação imitativa dos bebês. Perdida a comunicação emocional com os objetos, as conexões entre as atitudes emocionais individuais também se perdem; e as emoções individuais se fazem rígidas, automatizadas. Há sintomas – por exemplo, as posturas e movimentos catatônicos – que sugerem a possibilidade de ter havido até recorrência de impulsos, originados do período da vida intra-uterina. Depois que a regressão remove inibições normalmente presentes, voltam a aparecer tipos arcaicos de motilidade, com aspecto de atividades motoras catatônicas.
A ecolalia, a ecopraxia e a obediência automática também podem ser considera-das tentativas primitivas de recuperação do contato. O bebê adquiriu a capacidade de usar expressões mímicas para estabelecer contato com outras pessoas, imitando os gestos daqueles que o cercam, utilizando o mecanismo da identificação primária. Os catatônicos procuram recuperar o que perderam regredindo a este mecanismo primitivo, os gestos deles, freqüentemente, visam a imitar os gestos de outras pessoas, mas o fracasso da intenção faz o gesto se transformar numa espécie de caricatura respectiva: os impulsos hostis, ainda (ou novamente) atuantes exprimem-se à maneira da imitação, caso em que os estranhos maneirismos tanto imitam o que se viu no passado quanto antecipam, como “gestos mágicos”, o comportamento no futuro.
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(2*)Baseado em FENICHEL, O. Teoria Psicanalítica das Neuroses. São Paulo, Ed. Atheneu, 2000(18).

Freud e o Homem dos Ratos - Bibliografia consultada - parte 9

Bibliografia Consultada: 

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23. ________________ A Vergonha sob o Ponto de Vista Psicanalítico. Século XX eXXI - O que permanece e o que se transforma. vol. VII. São Paulo, Lemos ed. 1997,p. 13- 24.


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25.________________ O Látego Nemésico, Matrimônio Filicídio, Orgasmo-Morte emGrupanálise. Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol.IV. SãoPaulo, Lemos ed. 1994, p. 19-32.


26.________________ Doença do Neutro. Dificuldades Técnicas - Transferência Misconceptiva. Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. V. SãoPaulo, Lemos ed. 1996 p. 9-28.


27.________________ Epistemologia da Vitimologia. Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. III. São Paulo, Lemos ed. 1993, p. 77-96.
28.________________ Psicossomática na Psiconeuroimunologia e nas Neoplasias.Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. III. São Paulo, Lemos ed. 1994, p. 31-6.


29.________________ Psicose da 3ª geração: O "Nome da Lei" ou " Da cultura" (Lacaniana), a Urdidura Familiar. Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. II. São Paulo, Lemos ed. 1993, p. 75-90.


30.________________ O Mito do eterno Abandono e a Repetição Compulsiva. SéculoXX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. VIII. São Paulo, Lemos ed.1996 p. 11-23.


31.________________ Grupanálise e Perversões - Avatares do Amor. Século XX e XXI- O que permanece e o que se transforma. vol. IX. São Paulo, Lemos ed. 1997 p. 15-21.


32._________________ e NOGUEIRA-SILVA, A. P. Neurociência: A Poda das sinapses nos pensamentos obsessivos, nos fanatismos e as dificuldades de seu tratamento. Conferência ministrada em 19/06/04 na Soc. Brasileira de Psicanálise.


33. MORENO, J.L. Fundamentos do psicodrama, São Paulo, Summus editorial, 1983.


34. NATRIELLI, D.G.; VIDIGAL, S.; SOARES, N. C. Psicoterapia de Grupo: A verdade, a Mentira e o Pensador. Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. IV. São Paulo, Lemos ed. 1994, p. 13-7.


35. ___________________________________Contribuições de Melanie Klein, Winnicott e Bion para a psicoterapia Analítica de Grupo. Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. I. São Paulo, Lemos ed. 1992 p. 30-7.


36.___________________________________O Grupo Analítico e suas Vicissitudes: AInterpretação. Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. I. SãoPaulo, Lemos ed. 1992, p. 38-46.


37.___________________________________ Psicoterapia Analítica de Grupo: A formação de grupoterapeutas e suas instituições. Identidade do terapeuta em psicoterapia analítica d e grupo. Utilização de modelos em psicoterapia analítica de grupo.Psicoterapia de grupo: vivência corporal e verbal. Psicoterapia de grupo e o homemadequado. A revivência da violência do Mito de Édipo no "setting" grupal. Psicose de transferência em fronteiriços. Manejo de surtos psicóticos em psicoterapia analítica.Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. IV. São Paulo, Lemos ed. 1992. 110p.


38.____________________________________ Contribuições de Foulkes, Wolf, Wolberg, Schwartz, Kadiz e Winick à Psicoterapia de Grupo Atual. Século XX e XXI - Oque permanece e o que se transforma. vol. V. São Paulo, Lemos ed. 1996, p. 40-2.


39. OLIVEIRA, R. http://www.neurociencia.com.br


40. PACHECO SILVA, A.C. Cinema e literatura - uma visão psicanalítica. Século XX eXXI - O que permanece e o que se transforma. vol.VII. São Paulo, Lemos ed. 1997,p. 171-97. Parte II: Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. IX. São Paulo, Lemos ed. 1997 p. 143-151.


41. PEREIRINHA, F. Nome de gozo ( a propósito do “Homem dos Ratos” ). In: CARTA ACF -Nº 14 - Janeiro – Fevereiro - Março de 2000.


42.www.laboratóriospfizerltda.com.br, 2004




43. ZIMERMAN, D.E. Vínculos e Fantasias Inconscientes. Século XX e XXI - O que permanece e o que se transforma. vol. V. São Paulo, Lemos ed. 1996, p. 55-65.


44.______________ Fundamentos Básicos das Grupoterapias.Porto Alegre, Artes Medicas, 1993. 182p.

A arte de não adoecer - Dr. Dráuzio Varella

Se não quiser adoecer - "Fale de seus sentimentos"

Emoções e sentimentos que são escondidos, reprimidos, acabam em doenças como: gastrite, úlcera, dores lombares, dor na coluna.. Com o tempo a repressão dos sentimentos degenera até em câncer. Então vamos desabafar, confidenciar, partilhar nossa intimidade, nossos segredos, nossos pecados. O diálogo, a fala, a palavra, é um poderoso remédio e excelente terapia..

Se não quiser adoecer - "Tome decisão"

A pessoa indecisa permanece na dúvida, na ansiedade, na angústia. A indecisão acumula problemas, preocupações, agressões. A história humana é feita de decisões. Para decidir é preciso saber renunciar, saber perder vantagem e valores para ganhar outros. As pessoas indecisas são vítimas de doenças nervosas, gástricas e problemas de pele.

Se não quiser adoecer - "Busque soluções"

Pessoas negativas não enxergam soluções e aumentam os problemas. Preferem a lamentação, a murmuração, o pessimismo. Melhor é acender o fósforo que lamentar a escuridão. Pequena é a abelha, mas produz o que de mais doce existe. Somos o que pensamos. O pensamento negativo gera energia negativa que se transforma em doença.

Se não quiser adoecer - "Não viva de aparências"

Quem esconde a realidade finge, faz pose, quer sempre dar a impressão que está bem, quer mostrar-se perfeito, bonzinho etc., está acumulando toneladas de peso... uma estátua de bronze, mas com pés de barro.
Nada pior para a saúde que viver de aparências e fachadas. São pessoas com muito verniz e pouca raiz. Seu destino é a farmácia, o hospital, a dor.

Se não quiser adoecer - "Aceite-se"

A rejeição de si próprio, a ausência de auto-estima, faz com que sejamos algozes de nós mesmos. Ser eu mesmo é o núcleo de uma vida saudável. Os que não se aceitam são invejosos, ciumentos, imitadores, competitivos, destruidores. Aceitar-se, aceitar ser aceito, aceitar as críticas, é sabedoria, bom senso e terapia.

Se não quiser adoecer - "Confie"

Quem não confia, não se comunica, não se abre, não se relaciona, não cria liames profundos, não sabe fazer amizades verdadeiras. Sem confiança, não há relacionamento. A desconfiança é falta de fé em si, nos outros e em Deus.


Se não quiser adoecer - "Não viva sempre triste"

O bom humor, a risada, o lazer, a alegria, recuperam a saúde e trazem vida longa. A pessoa alegre tem o dom de alegrar o ambiente em que vive. "O bom humor nos salva das mãos do doutor".
Alegria é saúde e terapia.



"Que o meu coração se deixe comover pelas coisas que comovem o coração de Deus."

AEPSP


A Associação de Estudos Psicanalíticos de São Paulo tem por objetivo integrar psicanalistas e pesquisadores do psiquismo humano, formar e aperfeiçoar, em níveis de pós-graduação, promover congressos, seminários, simpósios e eventos afins, para o cultivo e desenvolvimento do psicanalista, provendo suporte analítico, ético, através de estudos continuados, grupos de estudos e supervisão aos seus associados.
É uma entidade que visa contribuir com o crescimento do saber psicanalítico, através da pesquisa e da formação de psicanalistas, estando voltada exclusivamente para o desenvolvimento desta ciência em suas mais sérias e expressivas manifestações. Sua contribuição social reside no respeito ao ser humano, buscando sua plena resolução afetiva e o amadurecimento de um ego estável, autônomo, hígido, que é o agente promotor da saúde psíquica.